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Nos corredores

A CPI mora ao lado

A rotina do senador Alvaro Dias (PSDB) mudou desde a semana passada. Primeiro, pela participação do paranaense nos trabalhos da CPI mista do Cachoeira. Depois, porque as reuniões da CPMI estão sendo realizadas na sala ao lado do seu gabinete e provocam tumulto durante a maior parte do dia. Como o local não tem capacidade para abrigar jornalistas e todo o staff dos parlamentares envolvidos na investigação, a maioria das pessoas que acompanha as sessões fica no corredor, prejudicando o tráfego.

Gabinete de cinema

No terceiro mandato como senador, Alvaro ocupa um dos melhores (senão o melhor) gabinete da Casa. Além de ficar mais próximo do plenário e das salas das comissões (o que só se transforma em transtorno no caso de CPMIs), o espaço tem dois andares e é mais bem distribuído que a maioria dos gabinetes "comuns". Dentre os demais senadores, há poucas regalias: os ex-presidentes da República José Sarney (PMDB-AP) e Fernando Collor (PTB-AL), por exemplo, têm direito a gabinetes no Anexo 1, onde fica a tradicional torre do Senado.

Ala comum

Os outros dois senadores que representam atualmente o Paraná, Roberto Requião (PMDB) e Sérgio Souza (PMDB), têm gabinetes em uma área considerada menos nobre do Senado, a ala Teotônio Vilela. A propósito, Requião herdou o espaço que era ocupado por Osmar Dias (PDT). Souza, que é suplente da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, está no gabinete que na legislatura passada foi ocupado pela atual ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti.

As saídas do senador goiano Demóstenes Torres do DEM e do vereador curitibano João Cláudio Derosso do PSDB tentam preservar, aparentemente, algum grau de moralidade dos partidos. Nos dois casos (e em tantos outros idênticos, como na recente abertura do processo de expulsão movido pelo PMDB contra o também vereador Algaci Tulio), as aparências enganam. As siglas e seus caciques não têm o direito de achar-se simplesmente absolvidos pelo afastamento de filiados enrascados em escândalos.

Em primeiro lugar, é uma enorme desfaçatez a ideia de que os partidos foram "éticos" nesses episódios. PSDB e DEM simplesmente se desfizeram dos anéis para preservar os dedos. A mais pura estratégia do salve-se quem puder.

Ou alguém acha que as legendas não sabiam o que acontecia dentro de casa? Voltando um pouco no tempo, é como acreditar que Lula não sabia do mensalão. Guardadas as proporções de cada um no cenário nacional e local, Demóstenes e Derosso tinham não só a chave da porta de seus partidos, como lugar cativo na mesa de jantar.

O senador sempre atuou como uma espécie de xerife do DEM. Em 2009, durante o episódio do mensalão de Brasília, estava na linha de frente dos que queriam a expulsão do governador José Roberto Arruda e do vice Paulo Octávio. Na época, a solução encontrada foi a mesma de agora – houve ameaça de expulsão, mas logo depois a dupla preferiu sair por conta própria.

Já Derosso era ainda mais dono do pedaço. Presidiu o diretório municipal tucano e a Câmara de Vereadores de Curitiba até o ano passado. Foi muito tempo cotado para ser candidato a vice na chapa do atual prefeito, Luciano Ducci (PSB), nas eleições de 2012 e sempre foi um cabo eleitoral disputadíssimo entre os nomes de primeira linha da política paranaense.

Por essas e outras é difícil de crer que nenhum dos figurões nacionais do DEM tenha percebido os laços de Demóstenes com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. E que ninguém do PSDB de Curitiba tenha levantado a discussão sobre os milionários contratos de publicidade da Câmara na gestão Derosso. Não há registro de nenhum questionamento interno prévio para tratar desses assuntos em ambos os partidos.

Desse pressuposto saem três hipóteses, nenhuma favorável às legendas:

1) Se elas não sabiam das suspeitas antes, foram ineficientes;

2) Se desconfiavam e nada fizeram, foram lenientes;

3) Se sabiam, foram coniventes.

No fundo, os dois casos mostram que todo o mal deriva do fato de que os brasileiros não acreditam nos partidos. Por quê? Porque, na verdade, nem os partidos acreditam neles próprios ao se comportarem sempre como meras agremiações sob a tutela restrita de determinados coronéis.

Horas antes de entregar a carta de desfiliação, Derosso chegou a dizer que seria o candidato mais votado nas eleições de outubro, mesmo com todas as denúncias contra ele. Não falou nenhuma sandice. Se ainda houvesse prazo legal para se filiar a outra sigla, ele até poderia concorrer e cumprir a previsão.

Para o eleitor comum, infelizmente, não faria grande diferença. Por isso caberia também aos partidos filtrar melhor seus candidatos. Eles deveriam funcionar como um selo de qualidade, não de impunidade.

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