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Marqueteiros políticos podem até posar de alquimistas, mas nas eleições há algo quase tão difícil quanto produzir ouro – tornar vencedor um candidato que, digamos assim, fica muito atrás dos rivais no quesito beleza. Pelo mundo afora, carecas, gorduchos e feiosos sofrem muito mais para conquistar eleitores.

Ano passado, o estilo bossa-nova do esbelto Barack Obama ajudou-o a derrotar o já velhinho John McCain na eleição presidencial norte-americana. Reações como essa não ocorrem necessariamente por preconceito, mas o fato é que quase nenhuma nação admite ter um comandante sem vigor físico, propenso a piripaques que exponham o país a situações de crise.

Além disso, assim como nas relações de consumo, as pessoas inconscientemente projetam nos políticos aquilo que gostariam de ser.

Do ponto de vista racional, ao escolher seus representantes o cidadão busca alguém que prometa melhorar sua condição socioeconômica ou no mínimo mantê-la.

No best-seller A cabeça do eleitor, Alberto Carlos Almeida comprova a tese de que o brasileiro vota quase sempre em função disso – mandatários bem avaliados, que conseguiram melhorar a vida das pessoas, muito raramente fracassam ao tentar se reeleger ou fazer seus sucessores.

Mesmo essa teoria, porém, sofre com o imponderável. Ao mesmo tempo em que Lula alcança recordes de aprovação popular, a favorita do presidente para substituí-lo em 2010, Dilma Rousseff, acaba de passar por uma recauchutagem geral.

A ministra engavetou os grossos óculos de grau e o laquê para apostar no cabelo repicado e na bioplastia – tipo de cirurgia plástica sem cortes. Nas palavras do colega José Múcio Monteiro, com as mudanças, Dilma "deu uma arrumada".

Será que precisava? Não. E sim. Para quem tem memória curta, vale lembrar que ela assumiu a Casa Civil após o furacão José Dirceu e a crise do mensalão. Austera e disciplinada, colocou o Planalto em ordem e de quebra virou a mãe do PAC.

Esses mesmos méritos, por outro lado, expuseram a face pouco simpática – e pouco feminina – de Dilma. Desconhecida do público em geral, a falta de carisma – ou de beleza mesmo – poderia ser decisiva em uma disputa mais apertada contra, por exemplo, o boa-pinta Aécio Neves (PSDB).

Neste parágrafo, o leitor mais atento pode discordar do raciocínio e destacar que Lula não é lá essas belezuras. Antes de vencer os carecas José Serra e Geraldo Alckmin, porém, é bom lembrar que ele foi derrotado por Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso – que pode não ser um Paulo Zulu, mas mantém o charme professoral. Além disso, investiu em ternos bem cortados, aparou a barba e deixou para trás a fama de "sapo barbudo".

E por falar em calvície, Serra pode quebrar uma maldição que completará 100 anos exatamente em 2010. Entre todos os presidentes brasileiros eleitos pelo voto direto, apenas um era careca – o general Hermes da Fonseca, que governou o país entre 1910 e 1914.

Por enquanto, Serra aparece como favorito nas pesquisas. Manter uma vantagem tão confortável, entretanto, será mais difícil do que encontrar a solução definitiva para a queda de cabelo.

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