Quando alguém faz uma reforma em casa, quer ganhar espaço, conforto ou simplesmente precisa consertar algo que não está funcionando direito. Na política, reforma também é sinônimo de redistribuição de cargos. O resultado dela, porém, é bem diferente: ao invés de conquistar espaço, o responsável pelas trocas acaba cedendo.
Nos próximos dias, a presidente Dilma Rousseff (PT) e o governador Beto Richa (PSDB) devem anunciar novidades em seus primeiros escalões. O curioso é que ambos vão tentar afagar os mesmos partidos, PMDB e PSD. Nada de aproximação programática, o que está em jogo é o xadrez eleitoral de 2014.
Dilma tende a fazer alterações pontuais, após 15 (sim, 15) trocas de ministros nos dois primeiros anos de mandato. O PSD deve ficar com o recém-criado Ministério da Pequena Empresa. E o PMDB com o da Ciência e Tecnologia.
Por aí vão outras excentricidades. Um dos possíveis ministeriáveis do PSD é o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, colega de chapa do tucano Geraldo Alckmin. O favorito entre os peemedebistas é Gabriel Chalita, ex-PSDB.
Beto deve fazer quatro modificações, que também passam pela atração de Ratinho Júnior (PSC) para a Secretaria de Desenvolvimento Urbano. O pacote para o PMDB incluiria a nomeação do ex-governador Orlando Pessuti para a presidência da Sanepar e a transferência de Luiz Cláudio Romanelli da Secretaria do Trabalho para a do Planejamento. Já o PSD ficaria com a Casa Civil, destinada para o deputado federal Reinhold Stephanes.
Assim como no caso das modificações estudadas por Dilma no plano federal, quem lê todos esses nomes locais fica com a memória embaralhada. Afinal, Romanelli era líder do ex-governador Roberto Requião (PMDB) na Assembleia Legislativa e Stephanes foi ministro da Agricultura de Lula. Sem falar em Pessuti e Ratinho, que fizeram campanha para Osmar Dias (PDT) contra Richa em 2010.
Aliás, Pessuti é atualmente membro do Conselho de Administração do BNDES. A nomeação dele foi assinada em junho de 2011 por Dilma. Será que vai trabalhar para gestões do PT e do PSDB ao mesmo tempo?
As manobras de Dilma e Richa (e de tantos outros governantes pelo Brasil afora) colaboram para uma falsa ideia incrustada na política brasileira de que quanto maior a coalizão, maior a união e a estabilidade. Na verdade, o que está em jogo não é a formação de um time disposto a lutar junto por um só programa de governo. O que há é a partilha de cargos a partir do ideário do "cada um por si" e nunca no de "todos por um".
De maneira geral, os partidos com peso eleitoral topam entrar nas coalizões desde que tenham direito a secretarias ou ministérios com "porteira fechada". Ou seja, querem transformar as pastas em feudos próprios, sem ter de prestar contas. Quando se fala nas tais reformas de governo, o que está em jogo é quem cuida das porteiras e não exatamente o que está sendo feito lá dentro.
Enquanto essas práticas persistirem, mais risíveis ficam os bordões sobre a "gerentona" Dilma ou sobre Richa e seu "choque de gestão". Nos próximos dias, as novidades lá e cá serão vendidas como uma correção de rumos. No fundo, como os nomes envolvidos na dança das cadeiras expõem, são reformas para muito pouco ou quase nada.



