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Nos corredores

The book is...

Autor do livro Jogo Sujo: o Mundo Secreto da Fifa, o jornalista britânico Andrew Jennings aconselhou o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) a disponibilizar uma versão em inglês do relatório da CPI do Futebol, encerrada em 2001, e que teve o tucano como presidente. Alvaro, que ciceroneou Jennings em audiência pública realizada no Senado anteontem, disse que vai providenciar a tradução e que muito da obra do britânico coincide com informações levantadas pela comissão.

... on the table

Presidente da Comissão de Educação do Senado, Roberto Requião (PMDB) conduziu parte da audiência com Jennings. Em determinado momento, ele se surpreendeu ao saber que jornalista era escocês e não inglês, como imaginava, e tentou corrigir com uma brincadeira: "Na verdade, o senhor é um leprechaun tentando nos levar ao pote de ouro da Fifa". O britânico fez cara de paisagem: leprechaun é um duende verde do folclore irlandês.

Speaker

Jennings deu pouco espaço para os senadores intervirem durante a audiência. Falou tanto que irritou Mário Couto (PSDB-PA), famoso na Casa pelos discursos longos e raramente com sentido. "O senhor fala muito, mas eu falo também, portanto respeite a minha vez", disse Couto, atravessando o convidado. Apenas quatro senadores aguentaram firme até o final da reunião – Alvaro, Couto, Paulo Bauer (PMDB-SC) e Ana Amélia Lemos (PP-RS).

Colega de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) na CPI da CBF-Nike, o deputado federal Dr. Rosinha (PT) ficou em silêncio ao ser questionado sobre a nomeação do comunista para o Ministério do Esporte. "Pode colocar que eu preferi não dizer na­­da", pediu o paranaense. A reação é um sintoma do que significa a escolha do substituto de Orlando Silva.

Aldo não é exatamente uma figura das mais constantes da política nacional. Além disso, seus movimentos recentes não o credenciam como um aliado confiável para o governo em um momento tão delicado para a organização da Copa do Mundo de 2014. Há quem diga que Dilma Rousseff logo terá saudades de Orlando.

Passou pelas mãos de Aldo a mais dolorosa (talvez única) derrota da presidente na Câmara dos Deputados, a aprovação do novo Código Florestal. Relator da proposta, ele costurou uma estranha aliança com os ruralistas e promoveu mudanças que, por exemplo, diminuem a autonomia da União sobre a exploração de áreas de preservação permanente (APPs) em margens de rios. Dilma já avisou que vai vetar trechos do texto caso não sejam feitas mu­­danças pelo Senado.

Antes disso, o comunista insistiu até o último momento em disputar a presidência da Câmara contra o governista Marco Maia (PT-RS), em fevereiro. Desistiu, mas retomou a carga no mês passado, na eleição para ministro do Tribunal de Contas da União. Jogou contra as ordens do Pla­­nalto, que apoiou Ana Arraes (PSB-PE), e perdeu.

A história mais ambígua, no entanto, é antiga e foge da relação entre governo e oposição. Em 1999, Aldo foi o autor do requerimento para a criação da CPI da CBF-Nike, que tinha a ideia de investigar contratos entre a confederação e a empresa de material esportivo. A comissão foi instalada no ano seguinte e ele foi escolhido como presidente.

Junto com Rosinha, Aldo e o relator dos trabalhos, o ex-deputado Silvio Torres (PSDB-SP), lutaram o quanto puderam para aprovar o relatório final. O texto, contudo, não chegou a ser votado. O trio sofreu uma goleada da bancada da bola, articulada pelo então deputado-cartola Eurico Miranda – ex-presidenre do Vasco.

Na época, Aldo comprou briga com a CBF. Inconformados, ele e Torres ainda fizeram um livro com o conteúdo final do relatório, que acabou tendo a distribuição proibida pela Justiça. Mas o tempo passou e muita coisa mudou...

Aldo se aproximou do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e é apontado hoje como um "confidente" do dirigente. Essa nova relação não pega lá muito bem em Brasília, justamente no momento em que o Congresso Nacional discute a Lei Geral da Copa. A propósito, há dois dias o Senado ouviu o jornalista britânico Andrew Jennings, que também escreveu um livro com denúncias pesadas contra a Fifa, a CBF e, claro, Teixeira.

No mais, o fato é que a troca no Esporte muda muito pouco o sistema de comando da pasta. Aldo foi uma escolha unânime do PCdoB e, até certo ponto, uma maneira de a legenda bater o pé contra os petistas. Vale lembrar que as acusações que derrubaram Orlando são bem menos comprováveis do que o aparelhamento partidário do ministério.

Ainda assim é errado avaliar que Dilma trocou seis por meia dúzia. O que parece mesmo é que ela substituiu um problema por outro.

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