Em Curitiba, o motor das eleições municipais foi, é e continuará sendo o transporte público. Debater as soluções para o trânsito é o esporte local, inclusive para os que há tempos abandonaram os biarticulados para congestionar as ruas com seus carros. Especialmente em 2012, o tema será mais quente do que nunca.
E não apenas pela greve de cobradores e motoristas que parou a cidade por quase dois dias nesta semana. Os protestos tendem a ser diluídos até outubro. Mas deixam o rastro de pólvora sobre os dilemas que vão inevitavelmente aparecer nos próximos anos e que virão pelos trilhos do metrô.
Durante a paralisação, muito se falou sobre o esforço de manter o preço da passagem nos atuais R$ 2,50. O sistema já opera no vermelho em cerca de R$ 0,06 por passageiro, o que tende a crescer para R$ 0,17 com o aumento de 10,5% para motoristas e cobradores. Ou o reajuste será repassado ao usuário ou terá de ser ainda mais subsidiado pelo poder público municipal e estadual.
A conta, que já é complexa, vai ficar ainda mais difícil de ser fechada com o metrô, que terá a mesma tarifa dos ônibus e fará parte da Rede Integrada de Transporte da Urbs. Vale lembrar que o novo modal sairá do papel por meio de uma parceria público-privada, cuja empresa licitada terá o direito de administrar o sistema por 30 anos. É natural imaginar que, ao mesmo tempo em que envolve mais parceiros e fica mais sofisticado, todo o transporte público vai se tornar mais caro.
Mas será que é isso o que a população realmente quer e precisa? Nada mais próprio para esmiuçar o assunto do que uma campanha eleitoral. Até agora, no entanto, nenhum pré-candidato deu à causa a profundidade necessária.
Há vários aspectos a serem levados em consideração. O projeto do metrô que deve começar a sair do papel a partir de 2013 vai consumir R$ 2,25 bilhões, dos quais R$ 1 bilhão (45%) será repassado pela União e R$ 300 milhões (13%) pelo governo do estado ambos os casos a fundo perdido. Os demais R$ 950 milhões (42%) vão ficar a cargo da prefeitura, que vai emprestar R$ 450 milhões do governo federal e deixar os restantes R$ 500 milhões por conta do escolhido para a PPP.
Os investimentos vão resultar inicialmente em uma única linha de 14,2 quilômetros, com 13 estações distribuídas entre o terminal CIC/Sul e a Rua das Flores, que deve ficar pronta em 2016. Ficam as questões: o quanto o restante do sistema de ônibus vai ser onerado pelo metrô? Quem anda de ônibus vai acabar pagando a conta dos usuários do metrô?
Claro, ainda existe a possibilidade de um subsídio maior do poder público. Há os que acham que a ajuda é meramente política, mas no fundo ela também faz sentido econômico. Se Curitiba é a cidade que mais gera arrecadação para o estado em IPVA, por exemplo, é compreensível que receba mais contrapartidas por isso. Ainda assim, há controvérsias políticas evidentes.
Todas essas argumentações poderão ser feitas no momento e ambiente adequado, quando a campanha começar para valer. Não existe receita pronta, mas decisões a serem tomadas sobre o bolso e o conforto dos curitibanos. Se a discussão sair do raso e abranger direito os ônus e bônus do que vem pela frente, é a cidade quem sai no lucro.



