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O papel já foi de Waldomiro Diniz, de José Dirceu, de Delúbio Soares, de José Genoíno, de Sílvio Pereira, da falta de reforma política, da prática do caixa 2, de Antônio Palocci, dos aloprados, de Waldir Pires, da Aeronáutica, da Anac e de inúmeros outros personagens e motivos escalados pelo presidente Luiz Inácio da Silva para assumir responsabilidade exclusiva por episódios aos quais caberia a ele, como chefe da Nação, responder.

A missão parece ser por ora de Nelson Jobim. Trata-se de uma sistemática por meio da qual Lula busca sempre separar sua figura de acontecimentos desfavoráveis, passíveis de lhe render desgaste político. O velho truque de alegar que não "sabia de nada" tem por objetivo pesado e medido construir com eficácia a imagem de político "teflon", em quem nada "pega".

Agora, de novo, fez o mesmo. Sem nenhuma preocupação em adaptar sua versão ao tempo enorme que teve para se inteirar da amplitude, da profundidade e das ramificações da crise aérea, o presidente alegou desconhecer a gravidade do problema e, por isso, não agiu a contento. Pelas palavras do presidente Luiz Inácio da Silva, ao pontuar que o "cachorro sem dono" do setor aéreo passou à propriedade do ministro da Defesa, depreende-se que se algo sair errado a responsabilidade será de Jobim. Está, portanto, escalado para ser o culpado da vez.

Inclusive porque, se sair-se bem da tarefa de organizar o sistema de tráfego aéreo, não serão dele os louros. Lula saberá, como soube fazer até com idéias que no passado combateu – o plano de estabilização econômica, por exemplo –, avocar para si o direito aos benefícios.

Dirá que foi dele a idéia de nomear Jobim, como se não tivessem sido seus subordinados – governamental e partidariamente falando – todos os outros de quem, com rara habilidade, Lula marcou distância no momento preciso e na medida das possibilidades da ocasião. Não sabia que a crise era tão grave, disse o presidente às doutas excelências integrantes de seu conselho político. Reverentes e agradecidas pela promessa de que em 15 dias teriam todos os seus pleitos fisiológicos atendidos, sequer simularam perplexidade diante de tal confissão.

Confessou que durante dez meses, desde o acidente do Boeing da Gol, não fez a menor questão de se inteirar do problema, que não se deu ao trabalho de prestar atenção ao relatório feito em 2003 por seu então ministro da Defesa, José Viegas, não escutou os alertas da Aeronáutica e confessou também que não lê jornal, não assiste a noticiários de televisão, não tem quem lhe dê no Palácio do Planalto informações e, portanto, nem de ouvido governa. Embora o faça sobejamente da boca para fora.

Antes do vendaval

Marco Antônio Feijó Abreu é viúvo de Leila Ventura Abreu e acompanha com especial atenção, e muito descrédito, os acontecimentos pós acidentes do Boeing da Gol e do Airbus da TAM. Seis meses antes do desastre que deflagrou a crise aérea, em outubro de 2006, a mulher de Marco Antônio e mais 18 pessoas morreram na queda de um bimotor que no dia 31 de março decolou de Macaé (RJ) com destino ao Aeroporto Santos Dumont e bateu num morro na altura do município de Rio Bonito.

O avião pertencia à empresa Team e tudo indica, pelas investigações até agora, que foi vítima de imprudência motivada pela idéia de encurtar o percurso e, conseqüentemente, economizar combustível. Segundo o relato de Marco Antônio, o piloto pediu autorização para fazer um vôo visual, alterando o plano previamente utilizado. A nova rota reduziria em 25% o tempo do vôo a partir de São Pedro da Aldeia.

No lugar de seguir a leste em direção ao mar, sobrevoar até depois da zona sul da cidade do Rio de Janeiro e depois então se dirigir ao Santos Dumont, o avião seguiu uma rota em linha reta da altura do radiofarol de São Pedro até o aeroporto. O problema é que esse vôo visual tinha no meio do caminho a Serra de Mato Grosso e condições de visibilidade ruins.

Relato de um piloto da mesma empresa registra a observação, meia hora antes do acidente, de teto baixo na região, mas que, em virtude da existência de "brechas" no horizonte, o bimotor prefixo PT-FSE poderia tentar passar por lá.

A hipótese da colisão é apenas uma hipótese porque, passados um ano e quatro meses do acidente, as famílias não receberam nenhuma explicação sobre suas causas e não houve indenização. Mas há entre as famílias, pelas evidências obtidas, uma certeza: seus 19 parentes morreram em função da ausência de segurança aérea que depois viria a matar outras 353 pessoas.

E conclui Marco Antônio Feijó Abreu, em indagação compartilhada por muita gente no Brasil: "Até quando teremos de agüentar essas aberrações e a falta de comando no trato da segurança de vôo?" Pertencessem os cidadãos à base parlamentar do governo, não seriam necessários mais que 15 dias – prazo dado por Lula para fornecer os cargos exigidos – para ver o problema resolvido.

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