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O lutador de judô Eduardo Santos é a expressão de um drama nacional. Negro, pobre, sem condições de arcar com os custos básicos de sua atividade esportiva, Santos fez das tripas coração para chegar ao maior evento esportivo do mundo. Decepcionado com a derrota, jogou sobre si todo a responsabilidade pelo seu "fracasso". Todos nós sabemos, entretanto, de quem é a verdadeira culpa nesses casos em que pessoas dotadas de uma força de vontade acima da média, capazes de superar as mais altas barreiras, acabam, no final das contas, por não conseguir atingir os seus objetivos. Eduardo Santos é o exemplo mais contundente de como esse país – perdoe-me a expressão, caros leitores – joga gente no lixo. Imagine se um sujeito com essa grandeza, com a capacidade de, nas piores condições, colocar-se entre os melhores, recebesse uma ajuda, mínima que fosse, um incentivo, mínimo que fosse! Mas as autoridades não fazem absolutamente nada!

Que o leitor ande pelas ruas de Curitiba e veja quantas crianças e jovens se encontram nas mesmas condições. Aliás, por aqui, esse drama só tem se intensificado. Há alguns anos atrás, eu e meus colegas, recém-chegados à cidade, comentávamos surpresos a ausência de crianças pedindo esmolas nas ruas de Curitiba. Hoje, basta pararmos em qualquer sinal para que várias delas apareçam implorando alguma coisa. Vemos tantas, falamos tanto e tão superficialmente sobre o assunto que sequer nos damos conta de que presenciamos um crime. Quantas pessoas dotadas de força de vontade, talento e aspirações não se encontram ali? Quantas pessoas que, caso pudessem, poderiam se dedicar ao país como profissionais bem treinados, competentes, satisfeitos e orgulhosos de si? Quantos delas quase chegarão lá e, drama ainda maior, não culparão a si próprias pelo fracasso? É imperativo que os candidatos à prefeitura de Curitiba e à Câmara Municipal tratem esse assunto com seriedade e recuperem para todos nós esses indivíduos que, no fundo, vivem fora da cidade.

Renato Perissinotto é cientista político e escreve às terças-feiras.

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