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O leitor terá que me desculpar por não discutir hoje assuntos relativos às eleições municipais, pelo menos não diretamente. Nos últimos dias ficamos sabendo que três jovens brasileiros, todos de famílias simples, ficaram presos dois anos por um crime que não cometeram. Os três disseram ter confessado o crime sob tortura. Soubemos também que o sistema carcerário brasileiro tem 9 mil pessoas ainda presas, apesar de já terem cumprido suas penas. De acordo com um jornal de circulação nacional, 130 mil pessoas (um terço da população carcerária) se encontram em prisão preventiva, algumas delas há mais de dois anos, quando o máximo para essa modalidade é de 81 dias. Daniel Dantas, o banqueiro, teve sua prisão recusada pelo Supremo em questão de horas!

Se esse país almeja participar em alguma medida daquilo que chamamos de mundo civilizado, não é possível que esse tipo de situação continue. Se esse país vale alguma coisa, então é preciso que aqueles que se indignaram com as algemas que adornaram por alguns minutos o pulso do senhor Daniel Dantas venham a público, com a mesma indignação e veemência, bradar contra esse tipo de situação. Caso contrário, estamos todos fazendo papel de palhaços quando somos convidados a participar da "grande festa da democracia". Mas é bem provável que isso não ocorra, pois, é preciso dizer com todas as letras, a Justiça brasileira é uma justiça de classe.

Às vezes, é preciso deixar de lado os problemas da aldeia, a falta de creche, o excesso de propaganda, a precariedade do transporte, para atacar aquilo que compromete o núcleo mesmo de uma sociedade democrática e republicana. Quando pessoas impotentes (porque pobres) são violentadas por quem deveria protegê-las, quando o rico faz o que quer, quando a Justiça tarda e falha sempre em prejuízo de um dado grupo, então tudo aquilo que discutimos nos momentos eleitorais perde todo o seu sentido. Ou será que alguém se sentirá tranqüilo colocando o filhinho na creche sabendo que tem gente sendo torturada e presa injustamente logo ali?

Renato Perissinotto é cientista político e escreve às terças-feiras.

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