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Mensalão-RJ

Um dia, o ex-governador Anthony Garotinho contará o encontro que teve com dois gerentes do mensalão legislativo do Rio. A conversa foi no Palácio Laranjeiras, nos primeiros dias de seu governo.

Estão todos vivos, vivíssimos.

Maldição

Se Barack Obama vencer a eleição de novembro, ele será o terceiro norte-americano a sair direto do Senado para a Casa Branca. Os dois outros foram Warren Harding, eleito em 1921, e John Kennedy, eleito em 1960. Nenhum dos dois terminou o mandato. Harding morreu do coração e Kennedy tomou um tiro na cabeça. Em fevereiro passado, a escritora Doris Lessing enunciou uma maldição que paira sobre as cabeças de milhões de pessoas: "Eles vão matá-lo".

Madame Natasha

Madame Natasha passou a gostar de índios depois que conheceu algumas pessoas que os detestam. Ela cuida do idioma português e não conhece nenhuma das falas das galeras ingarikó, makuxi e wapixana, que vivem em Roraima. Contrariando seus hábitos, a senhora decidiu saudar o ministro Carlos Ayres Britto, relator do caso da Reserva Raposa Serra do Sol no STF. Em quatro palavras, o doutor (que é poeta) resumiu 500 anos de história desses povos. Disse e repetiu que eles foram submetidos a um "processo de espremedura topográfica". Ela começou no século XVI, quando os tupinambás percorreram 6 mil quilômetros (a distância de Berlim a Nova Délhi) fugindo dos caçadores de escravos.

Eremildo, o idiota

Eremildo é um idiota e pretende ganhar um dinheirinho viajando para Washington com um projeto de reajuste salarial para a Corte Suprema dos Estados Unidos. O tribunal norte-americano tem nove juízes, e cada um deles recebe o equivalente a US$ 208.100 anuais, equivalentes a 13 salários de R$ 27.213. (O presidente ganha um pouco mais.) No Brasil, os 11 ministros do STF deverão ter seus salários aumentados para R$ 25,7 mil mensais. Levando-se em conta que os pobres ministros norte-americanos recebem só o contracheque, enquanto os brasileiros têm carro com motorista pago pela Viúva, Pindorama tem algo a ensinar aos norte-americanos. O juiz Harry Blackmun (1908-1999) ia para o serviço de Fusca. O atual presidente, John Roberts, dispensou a limousine que vinha com o cargo.

Silêncio

Nos próximos quatro domingos o signatário ficará em silêncio, em férias.

Estimado Ivan Zurita, o senhor preside a Nestlé no Brasil, e o vosso imperador Pedro II acaba de me contar que nossa empresa foi multada em R$ 94.580 porque três produtos com minha marca eram vendidos com o peso aliviado. O Neston 3 Cereais, por exemplo, tinha um quilo e emagreceu para 900 gramas.

Disse o Pedro de Alcântara que foi a segunda vez em menos de um ano. A multa anterior foi de R$ 591 mil. Ele está aborrecido, pois nossa farinha láctea começou a ser vendida no Brasil durante o seu reinado.

Eu criei a Nestlé em 1866, mas não pretendo me comparar ao senhor. Fui apenas um empregado de farmácia que teve uma boa idéia: misturar leite com farinha de trigo e açúcar. Deu certo. Graças ao nome Nestlé, milhões de bebês salvaram-se da desnutrição. Para quem nasceu numa família que perdeu metade das suas crianças antes que chegassem à idade adulta, isso basta.

O senhor é um grande empresário. Emprega 16 mil pessoas e bateu a marca dos R$ 10 bilhões de faturamento anual. Eu vendi a Nestlé, em 1874, pela ninharia de 100 milhões em dólares de hoje. Acompanho suas atividades e permito-me lembrar que a Nestlé valeu o equivalente a 330 vacas como a "Dani Zurita", que o senhor vendeu num leilão para um cômico de nome Tom Cavalcante. É justo que se fale bastante de seus leilões de quadrúpedes, mas nossa empresa nada disse em sua página na internet sobre a multa aplicada ao Neston dos bípedes.

Escrevo-lhe pelo bom nome de minha família. Sofremos há décadas com os ataques de fanáticos e carbonários. Eles dizem que desestimulamos o aleitamento materno para robustecer nossas vendas. Já fomos boicotados em meio mundo, mas essa discussão é saudável. Se as pessoas não estivessem prontas para aceitar idéias diferentes, ninguém teria comprado minha farinha láctea.

O caso aí no Brasil é bem outro. Peso é peso, preço é preço. Se uma senhora compra o Neston 3 Cereais com o nosso logotipo, mais um aviso de "nova embalagem" e nela há só 900 gramas de mercadoria, enganamo-la. A informação relevante não era a nova embalagem, mas o novo peso – este impresso em letras menores.

Nosso nome e a marca com os quais familiarizamos os consumidores criam um vínculo. Mexendo no peso, nós o quebramos. Lembre o que os governos faziam com a inflação: diziam que uma cédula tinha um valor, mas, quando nossa cliente ia comprar o Neston, suas notas de dinheiro não valiam um quilo de cereais.

O senhor deve ter diretores prontos para inventar formas de ganhar mais dinheiro com menos trabalho (ou menos Neston). Uma vez sugeriram que eu trocasse o ninho da marca Nestlé por uma cruz suíça. Copiar cruz é muito fácil. Nosso leite condensado seria confundido com canivetes e relógios. Desconfie dessa gente. Em 1942, os diretores de duas de nossas fábricas na Alemanha disseram que podíamos usar trabalhadores fornecidos pelo governo do Reich. Justificavam-se argumentando que as fábricas de produtos Nestlé não eram da Nestlé. A estupidez custou-nos reputação e 16 milhões de dólares.

Dom Pedro leu o rascunho desta mensagem e pediu-me que acrescentasse um comentário. Ele ainda sofre com a Revolta do Quebra-Quilos, ocorrida no Nordeste em 1874. Foram umas cinqüenta badernas de ignorantes instigados por padres. Elas derivaram, entre outras coisas, de um truque dos mercadores. A conversão obrigatória para o quilo às vezes resultava numa redução de 10% do peso das mercadorias. Apesar disso, ele mantiveram os preços. Algo como houve aí com o Neston.

Doutor Zurita, aceite uma sugestão. Defenda a associação do nome Nestlé a produtos de peso fixo. Se for o caso, mude o preço. Não deixe que façam com minhas farinhas o que eu não faria com suas vaquinhas.

Respeitosamente, Henri Nestlé

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