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Tunga companheira

As centrais sindicais querem propor ao Congresso o fim da imposto sindical, substituindo-o por uma nova modalidade de contribuição.

É tunga, da boa. O imposto, instituído por Getúlio Vargas, custa um dia de trabalho à patuléia (0,28% da renda anual do salário). A "contribuição" giraria em torno de 1% dessa mesma receita. A escumalha passaria a suar 3,5 dias para entregar R$ 2 bilhões aos companheiros. Eles gostam de discutir tudo, menos a transformação das mordidas compulsórias em contribuições voluntárias. Paga quem quer e arrecada quem tem desempenho.

No ar

O presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, deve prestar atenção ao que lhe diz o ministro da Defesa, Nelson Jobim.

Se tivesse feito isso quando ele mandou acabar com a festa das obras de nove aeroportos, não estaria à deriva.

Oferta colonial

Dito e feito. A alma de Lord Strangford, o embaixador inglês que mandava em Dom João VI, reassumiu a representação de Sua Majestade no Brasil. Seus cambonos querem exigir vistos de entrada aos brasileiros que pretendem viajar à Grã-Bretanha. Tudo bem, mas o repórter Rui Nogueira descobriu que, para evitar isso, sugerem que Nosso Guia aceite a humilhação de manter fiscais ingleses em Cumbica para que se julguem as intenções de brasileiros que viajam no uso e gozo de suas prerrogativas legais. (No Império, os ingleses tinham juizados especiais para seus litígios.)

Não é o caso de se colocar a polícia do doutor Sérgio Cabral no metrô de Londres para impedir que a Scotland Yard mate trabalhadores brasileiros. Pode se dar o nome de piratas ingleses a carceragens nacionais.

Hora de escrever

Alguns ministros do Supremo acreditam que chegou a hora de a instituição tomar um pouco de distância dos holofotes.

Um tribunal faz sua fama pelo que seus juízes escrevem, não pelo que dizem aos microfones.

Na Suprema Corte norte-americana é falta de educação dirigir a palavra a um juiz sem que ele tenha tomado a iniciativa, mesmo no corredor.

Com mão de gato, os transportecas tucanos da prefeitura de São Paulo quiseram impor a cobrança de um pedágio urbano à população. Em vez de levar a questão para a luz do sol, enfiaram a mordida num projeto de legislação relacionada com "mudanças climáticas".

Esse novo imposto é parte de um plano antigo, que inclui a implantação de chips nos veículos. Descobertos, os doutores se fizeram de bobos e disseram que foi engano. Conversa fiada.

Cidades como Londres e Estocolmo têm pedágio urbano. Tratado com decência, o assunto foi discutido em campanhas eleitorais e até mesmo num referendo. Mesmo assim, são pedágios que incidem sobre áreas específicas.

A mordida de São Paulo pretende ir além: querem cobrar imposto de quem entra num engarrafamento. (Isso pode ser feito com a implantação dos chips.) Não existe nada parecido no mundo. No melhor estilo dos tucanos, há secretários a favor da medida e outros contra. Beleza, pois nesse caso um dia a patuléia fica com a conta, no papel de boba.

Nunca é demais repetir que a instalação do equipamento para rastrear os carros é coisa de uns R$ 2 bilhões. Em novembro de 2006, o Conselho Nacional de Trânsito determinou que até 2012 toda a frota de veículos do país deva rodar com chips, monitorada por redes de antenas de radiofreqüência. Essa jabuticaba obrigará a prefeitura de Uiramutã, no extremo norte de Roraima, a instalar antenas num município com 4,6 mil habitantes e uma frota de dez carros. Tudo para atender aos interesses públicos e privados de transportecas e fornecedores paulistas.

Grossman, o grande repórter da guerra

Saiu um bom livro com a história de um grande jornalista sobre o maior combate da história humana, a frente russa de 1941 a 1945, com seus 30 milhões de mortos. É Um escritor na guerra – Vasily Grossman com o Exército Vermelho, de Anthony (A Queda de Berlim) Beever e Luba Vinogradova.

Grossman (1905–1964) foi para a frente logo que a guerra começou e, até entrar em Berlim, passou por Stalingrado, Kursk e pelo que fora o campo de concentração de Treblinka. Durante todo esse tempo, mandou reportagens para o jornal Estrela Vermelha, cartas para a família e preservou seus cadernos de anotações. Beever trabalhou em cima desse material e produziu o que pode ser o melhor livro sobre o trabalho de um jornalista durante uma guerra. Pudera, pois além de ser um excepcional repórter, Grossman escreveu o romance Vida e destino (infelizmente inédito em português), obra comparada a Guerra e Paz, de Leon Tolstoi.

Ele acompanhava soldados e generais de carne e osso, perto das balas. Nada a ver com as fanfarronadas de Ernest Hemingway. A entrada do repórter em Kiev, onde deixara a mãe, e sua narrativa do massacre de judeus (como ele) são uma aula de emoção contida. Grossman descreve Alemanha derrotada sem orgulho ou prazer: "Há muitas jovens chorando. Aparentemente, sofrem pelo que lhes fizeram nossos soldados". Ele entrou no gabinete de trabalho de Hitler no dia 2 de maio de 1945 e afanou alguns carimbos. Um dizia: "O Fuhrer concordou."

Num tempo em que uma parte da humanidade virou bicho, Grossman contou duas histórias de bichos que valem o livro. Em Stalingrado, conheceu Kuzchenik, o camelo de um soldado cazaque. O animal entrincheirava-se durante os bombardeios e fora ferido três vezes. Um comandante disse que condecoraria Kuzchenik se ele chegasse a Berlim. Ele foi e cuspiu na escadaria do Reichstag.

Antes de voltar para Moscou, Grossman foi ao zoológico da cidade e viu uma gorila morta.

— Ela era feroz? — perguntou ao tratador dos macacos.

— Não. Ela apenas rosnava muito. As pessoas são mais zangadas.

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