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O governo de um presidente que propôs a criação de um imposto mundial sobre o comércio das armas, a Embraer negocia a venda de um Super Tucano EMB 314 com a empreiteira de segurança americana Blackwater.

Trata-se de um turboélice leve de ataque, apropriado para treinamento e missões de contra-insurreição (ou de insurreição). A empresa já vendeu esses aviões para a FAB e a Força Aérea Colombiana. Tudo indica que é a primeira vez que exporta semelhante armamento para uma empresa privada. Logo para a Blackwater, atolada em denúncias de malfeitorias praticadas pelas suas milícias no Iraque.

Em meados de agosto, a Blackwater confirmou a negociação, com uns poucos comentários. Da Embraer, nem uma palavra. Uma empresa vende, outra compra, e ninguém teria nada a ver com isso se a exportação de aviões de ataque para empresas privadas não envolvesse políticas de Estado. O governo dos Estados Unidos, na defesa dos seus interesses, veta importações de equipamentos para o projeto do satélite sino-brasileiro. A empresa Opto, de São Carlos, teve uma compra cancelada pelo fornecedor da Califórnia.

Fundada por veteranos das tropas de elite da Marinha americana, a Blackwater recruta seus craques pelo mundo afora, inclusive nos desativados plantéis dos aparelhos de segurança do Chile e da África do Sul. Paga a partir de US$ 3 mil a um soldado. Seu contrato com o Departamento de Estado totaliza US$ 1,2 bilhão. Um relatório do Congresso Americano informa que, desde 2005, a empresa se envolveu em 195 tiroteios no Iraque. Em 163 casos atirou primeiro. O governo de Bagdá chegou a mandá-la embora, mas recuou.

Nosso Guia comprará (para o país) o risco de se tornar fornecedor de armas e, talvez, de instrutores, para uma empresa de segurança que está sendo investigada pelo Congresso americano, é detestada num pedaço do Islã e tem mau olhado na África e na América Latina. A Blackwater é uma multinacional de segurança, comprometida com a defesa dos interesses do governo americano, desobrigada dos compromissos dos Estados soberanos. Sua principal concorrente no Iraque, a DynCorp, já está na Colômbia e na Bolívia. Há alguns anos ela tinha um plantel fluente em espanhol, disponível para operar em Cuba no pós-Fidel. A Blackwater montou um braço aéreo em 2003 e suspeita-se que seus aviões de transporte sirvam à rede de prisões clandestinas que os Estados Unidos têm pelo mundo afora. (O Super Tucano não tem nada a ver com isso. Carrega no máximo duas pessoas.)

O negro da passeata chamava-se Twist

No dia 16 de junho de 1968 o fotógrafo Evandro Teixeira estava na Cinelândia. Tinha debaixo da sua lente um pedaço da multidão que pouco depois sairia na passeata que se denominou dos "Cem Mil". Fez clic e retratou a garotada que emoldurava uma faixa onde se lia: "Abaixo a ditadura – O povo no poder".

Dias depois, Nelson Rodrigues ironizava: "E os negros, onde estão os negros?" Em 1998, o repórter Marcos Sá Correa tirou a prova examinando a foto: não havia um só negro naquele mar de gente.

Recentemente, Evandro ampliou a imagem para achar personagens de hoje nos rostos de 1968 e verificou que havia, um.

Correu atrás, para incluí-lo no livro "68 destinos", que lança no próximo ano, e descobriu que era o sindicalista "Twist", petroleiro de Manguinhos. Mudou-se para São Paulo, mas não poderá entrar no livro.

Twist morreu há poucos meses.

Fora do alcance da lente de Evandro, havia outros negros na passeata (poucos), entre eles, Gilberto Gil.

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Salto alto

Se o doutor Sérgio Gabrielli e a caciquia da Petrobrás continuarem achando que podem deixar o Rio e São Paulo sem gás, explicando-se no meio da noite com uma nota de 168 palavras, serão fortes candidatos ao lugar deixado por Milton Zuanazzi e seu colegas da Anac no anedotário da burocracia nacional.

No meio da tarde de quarta-feira a página da Petrobrás na internet não tinha uma só palavra sobre o apagão de gás. A nota noturna só podia ser encontrada no noticiário da agência de informações da empresa. Na hierarquia das notícias, estava em sexto lugar.

O maior destaque ia para "Petrobrás recebe prêmio Top em gestão de ativos intangíveis", com 351 doces palavras.

O gás tinha se tornado um ativo intangível, mas não tinha a relevância do prêmio.

Madame Natasha

Madame Natasha tem horror a impostos e por isso lê os orçamentos de todos os governos. Decidiu conceder uma de suas bolsas de estudo ao secretário de Economia e Planejamento de São Paulo, Francisco Vidal Luna, por ter assinado uma proposta onde há a seguinte pérola:

"Pagamento de serviços gerais do Estado":

"Pagamento de despesas gerais de natureza variada, classificáveis em elementos econômicos diversos, mas não em um órgão específico. São compromissos que, devido às suas peculiaridades ou por força de dispositivos legais, são privativos da Administração Geral do Estado."

Natasha acredita que o "pagamento de serviços gerais" é o pagamento de serviços gerais.

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Registro

O repórter Cristiano Romero fez uma incrível revelação sobre os dias nervosos da crise do mensalão. Ajuda a entender o passado e, quem sabe, o futuro:

"Em agosto de 2005, (...) quando o publicitário Duda Mendonça confessou à CPI que recebeu dinheiro do PT por meio de caixa 2, a ministra [Dilma Rousseff] considerou que, ali, o governo chegara ao fim da linha. Acompanhada de Antônio Palocci, então ministro da Fazenda, ela foi ao Palácio da Alvorada dar um conselho ousado ao presidente – que ele renunciasse ao cargo. Lula riu dos dois. ‘Vocês não me conhecem’."

Boa notícia

Em dois meses, 40 mil clientes da rede de postos Ipiranga aderiram ao cartão Carbono Zero, lançado pela empresa. Ele compensa com iniciativas de preservação do meio ambiente o monóxido de carbono expelido pelos carros.

Em números aproximados, um carro que roda durante um mês numa grande cidade queima 140 litros de combustível e emite 200 quilos de monóxido de carbono. Eles equivalem à quantidade de gás absorvida por dois abacateiros em fase de crescimento, durante o mesmo período.

O crédito de carbono permite que uma empresa possa pagar pela poluição que produz. A Ipiranga já estocou 5 mil toneladas para honrar o programa. Com o cartão, ela transfere ao motorista, sem qualquer custo, um crédito de fumaça equivalente ao combustível que ele queimará.

Quem adere ao programa habilita-se a receber um cartão Mastercard. Não paga por ele, nem pagará anuidade, por toda a vida. Se quitar a conta em 40 dias, não morrerá nos juros. Só as despesas feitas nos postos da Ipiranga compensam as emissões de carbono.

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