Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Euclides Lucas Garciam

A ordem é privatizar e arrecadar

Há três semanas, o secretário estadual da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, surpreendeu a todos ao anunciar a intenção de vender fatias da Copel e da Sanepar para socorrer o combalido caixa do estado em cerca de R$ 950 milhões. Ato contínuo, o sempre surpreendido governador Beto Richa (PSDB) descartou qualquer ação nesse sentido. Disse que jamais tratou do tema com o chefe da Fazenda.

O (suposto) desencontro de informações gerou uma lista de especulações. 1. Ao anunciar a ideia, o governo pretendia sentir o impacto que ela teria. 2. Já desgastado no cargo, sobretudo com os deputados da base aliada, Costa externou a intenção sabendo que causaria polêmica. A autofritada seria proposital e daria a ele o motivo que faltava para pedir o boné. 3. O Executivo teria orientado o secretário da Fazenda a estudar a negociação e torná-la pública também de caso pensado. Aí seria Richa que teria a desculpa necessária para demiti-lo do cargo.

Fato é que, amado ou odiado, Costa segue no primeiro escalão estadual. E a ideia de negociar ações de empresas públicas paranaenses está longe de ser apenas um delírio da cabeça do comandante da Fazenda. E, desta vez, a intenção vai além: se desfazer da Ferroeste, cuja concessão federal vai até 2078. Dono de 99,7% da companhia ferroviária, o estado, nas projeções mais otimistas, estaria calculando angariar com o negócio acima de R$ 1 bilhão.

O tema é tratado de forma sigilosa no Palácio Iguaçu. Na avaliação do governo, seria péssimo tornar pública a ideia em meio ao conturbado momento pelo qual passa a administração Richa – na relação com a sociedade paranaense e, também, com os deputados estaduais. A estratégia é tirar o negócio do papel apenas em 2016. Até porque, com a redução considerável da base aliada desde os acontecimentos de fevereiro, seria real o risco de perder a votação na Assembleia Legislativa.

Consultadas oficialmente via assessoria de imprensa, a presidência da Ferroeste e as pastas da Fazenda e da Infraestrutura negaram com veemência que estejam estudando ou cogitando a venda da empresa. Ao contrário, informaram que “trabalham para aportar recursos para aquisição de máquinas e de vagões, visando o aumento de produtividade no escoamento da safra paranaense”. O secretário do Planejamento, Silvio Barros, disse desconhecer o assunto.

“Eles [governo] vão negar, mas esse assunto é forte no palácio. Existe, sim, interesse [na venda da Ferroeste]. Mas o momento é ruim para anunciar. Isso vai ficar para o ano que vem”, confirmou um integrante do andar de cima do Executivo estadual.

Tanto é assim que deve ser protocolada nesta segunda-feira (8) na Assembleia uma proposta de emenda à Constituição Estadual (PEC) que exigiria a realização de um referendo se o Executivo decidisse abrir mão do controle majoritário de Sanepar, Copel, Ferroeste e Celepar. Nessas situações, caso os deputados aprovassem a proposta, a população paranaense é quem daria a palavra final pela concretização ou não do negócio .

Autor da PEC, o deputado Evandro Araújo (PSC) já tem 5 assinaturas a mais do que as 18 necessárias para apresentar a proposta. Resta saber se o presidente da Casa, Ademar Traiano (PSDB), dará tramitação à proposta ou vai aguardar instruções do governador sobre o caso.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.