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Não há crise que faça o governo federal, o Congresso Nacional ou o Poder Judiciário tomar consciência da gravidade da situação financeira que vive o país. Nem mesmo os gastos supérfluos aparentam estar sendo cortados pelo poder público. Na atual situação das finanças, os dirigentes da nação deveriam se preocupar em primar pelo exemplo.

É de lamentar, porém, que nem mesmo o fato de o Brasil ter acabado de perder o grau de investimento, na avaliação feita pela agência Standard & Poor’s, pareça afetar o comportamento pródigo de lideranças dos três poderes. A Standard & Poor’s decidiu não esperar novas medidas de ajuste do governo federal para, só então, rever a nota do Brasil e, com isso, o governo brasileiro voltou ao mesmo patamar que estava há sete anos. Mais uma vez está no time de países classificados como de risco especulativo, o que deve encarecer o custo de financiamento de empresas nativas e causar turbulências no mercado de capitais.

É mais um reflexo da crise financeira e política que atinge o Brasil e que os altos funcionários de Estado, entretanto, não parecem enxergar. Pelo contrário. A farra com o dinheiro público é fácil de identificar. Ela mora nos detalhes que vão sendo descobertos pela imprensa. Veja alguns exemplos:

1) O governo federal deve gastar R$ 215 mil na compra de prataria do Palácio do Planalto, segundo a Folha de S. Paulo. Estão incluídos nesse valor um jogo de 10 colheres cujo preço unitário é de R$ 303 cada. Afinal, todos merecem comer com requintados talheres.

2) Conforme mostra André Gonçalves no Blog Conexão Brasília, levantamento da organização não governamental Contas Abertas mostra que a Câmara dos Deputados empenhou R$ 249,9 mil para a compra de 336 novas camas box para mobiliar 76 apartamentos funcionais usados pelos deputados. Afinal, todos merecem dormir bem.

3) O Senado está renovando a frota de carros que atende os 81 senadores. O valor do contrato, R$ 2,3 milhões. Afinal, todos merecem desfilar em automóveis novos e confortáveis.

4) O dólar está perto de bater os R$ 4 mas isso não constrange o presidente do Senado, Renan Calheiros, e uma comitiva de outros oito senadores de viajar na próxima semana para a China, onde ficam até 30 de setembro, a um custo que pode variar de R$ 223.885 a R$ 801.681. Isso sem contar com 45 diárias pagas pelo contribuinte. Onde está crise para o Senado?

5) O ministro José Antônio Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, propôs na quarta-feira que juízes convocados a trabalhar nos gabinetes de vossas excelências recebam R$ 6,4 mil por mês, além do salário de R$ 32 mil. O valor extra à remuneração, corresponderia a seis diárias – uma forma de compensar o fato de o STF não pagar auxílio-moradia aos magistrados. Porém, é bastante provável que os magistrados convocados já recebam esse auxílio de constitucionalidade duvidosa e imoralidade flagrante. Existirá crise, aos olhos Judiciário?

Os bobos e a Corte

Há quem diga que o passado colonial nos deixou como herança o patrimonialismo. Na Corte , os valores da República são invertidos. Funcionários públicos deixam de servir à sociedade para servir a si próprios. Não importa se ingressam em carreiras públicas por mérito ou assumem cargos pela via da eleição. O Estado brasileiro está cada vez mais autorreferente, servindo a seus funcionários, como se fosse uma Corte Colonial, ao passo que oferece serviços de pouca qualidade aos contribuintes.

De um lado, a Corte e seus privilégios. De outro, os contribuintes, os bobos que cada vez pagam mais tributos para ter pouco a receber em troca.

É preciso que os altos funcionários de Estado, eleitos ou meritocráticos, tenham consciência de que a crise não pode existir apenas para o contribuinte. Não podem terceirizar os problemas do país para a sociedade enquanto se autoconcedem aumentos, como ocorreu no início do ano, e outros benefícios, como esperam receber agora e adiante. Grandes líderes sabem dar o exemplo e impulsionar os outros a também fazê-lo. Isso significa que mesmo gastos de pequeno valor precisam ser cortados, por mais que sejam irrelevantes quando se analisa o valor todo do orçamento.

A crise precisa existir para todos.

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