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Golpe de vista

Em Londrina, o vereador Joaquim Donizete do Carmo (PDT) se licenciou de suas atividades na Câmara Municipal para fazer uma cirurgia nos olhos. Na licença do pós-operatório, apesar de estar afastado do trabalho, Carmo não se furtou de participar de um torneio de bilhar. É líder invicto. A cirurgia corrigiu a mira do vereador, mas cabe à população lembrá-lo de corrigir o comportamento. Afinal, alguém que está licenciado para convalescer de um pós-operatório nos olhos poderia estar impossibilitado de ir trabalhar, mas ao mesmo tempo, estar em perfeitas condições de disputar um cam­­peonato de bilhar? ­Qual a sua opinião?

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Desenvolver a cultura de cidadania exige um alto custo de tempo, energia e atenção. Parece óbvio, mas nestes tempos de velozes e furiosos não custa lembrar que iniciativas continuadas têm mais chance de mudar o país do que passeatas esporádicas. É nessa toada que o Sesi instituiu a Rede de Desenvolvimento Local (www.desenvolvimentolocal.org.br), um projeto que surgiu em 2010 e está presente em seis cidades do Paraná, incluindo 15 bairros de Curitiba e cidades da Região Metropolitana.

A Rede de Desenvolvimento aposta que a mobilização de longo prazo pode desenvolver uma cultura de participação e mobilização para resolver problemas que atrapalham a vida da comunidade. Trabalhando-se em rede, com uma metodologia adequada, o Sesi entende que é possível mudar a cultura da apatia social.

Para atingir os objetivos eleitos pelos moradores dos bairros, é utilizado um procedimento que leva em conta cinco etapas. A primeira é a da mobilização, em que se escolhe as comunidades para atuação dos agentes da Rede de Desenvolvimento, identificando os líderes locais e convidando-os a conhecer o projeto. Na segunda etapa, com a ajuda dos líderes comunitários realizam-se reuniões com moradores interessados e todos são instigados a pensar o futuro do bairro. Em seguida, na etapa do planejamento, os moradores levantam os problemas locais e discutem soluções. Depois disso, estabelecem ações prioritárias e objetivos a serem atingidos. Por fim, a quinta etapa é a de concretizar o planejado – o que é feito pelos próprios moradores, com a eventual ajuda do poder público e de entidades interessadas.

Atualmente, mais de 8 mil pessoas estão engajadas na Rede de Desenvolvimento. Juntas, realizaram 335 ações em áreas como transporte, segurança, saúde, meio ambiente, educação e geração de emprego e renda. A mobilização é realizada por agentes que fazem parte do corpo técnico da Rede.

Autossustentável

Desde janeiro deste ano, Tanara Baptista, formanda em Psicologia pela UFPR, trabalha no desenvolvimento da Rede do Água Verde. Ela conta que foram realizadas algumas ações educativas na área de saúde e urbanismo no bairro e para estruturar a associação de moradores. "Estamos organizando agora um ciclo de diálogos para que os moradores planejem o que querem fazer pelo bairro", afirma Tanara. Ela vai encerrar sua atuação na Rede no final do ano e não será substituída por outra agente. "A ideia é que os moradores tenham autonomia para conduzir o projeto sozinhos."

Nesse tempo, Tanara disse que gradativamente as mudanças vão acontecendo no comportamento das pessoas. "Não é algo de curto prazo. São questões culturais. As pessoas vão se tornando mais participativas e vão trás das soluções", explica ela. "Não ficam apenas reclamando."

A abordagem da Rede de Desenvolvimento tem consequências imediatas para a comunidade. Quando se trata de levar as pessoas da apatia à participação, tende a ser mais eficaz que as passeatas de rua. Os protestos dos últimos meses já não mais surtem efeito no comportamento dos políticos. A evidência mais recente foi a decisão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que rejeitou anteontem uma proposta para que candidatos divulguem durante o período eleitoral a lista de doadores de campanhas políticas.

A aprovação da proposta só beneficia a classe política em detrimento do direito do eleitor de saber quem está financiando seus candidatos. Não houve protestos contra a medida. Não se ouviu nas ruas gritos de indignação. Nem mesmo nas redes sociais da internet o assunto foi alvo de críticas contundentes.

Em uma cultura política madura, os parlamentares temeriam que sua imagem fosse prejudicada toda a vez que legislassem em causa própria. A mudança cultural passa por fazê-los temer a derrota eleitoral quando agem para se beneficiar em detrimento dos cidadãos. E abordagens como a do Sesi, contínuas e autossustentáveis, parecem ter mais eficácia do que protestos de rua.

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