O Congresso Nacional será tomado por 594 vassouras depois de amanhã, em mais um ato organizado pela sociedade contra a corrupção. Os manifestantes pretendem entregar uma vassoura para cada parlamentar 513 deputados e 81 senadores em sinal de protesto contra a corrupção. Os brasilienses, apoiados pela ONG Rio de Paz, vão usar as mesmas vassouras que os cariocas utilizaram na semana passada em Copacabana, numa sucessão de atos envolvendo 2,5 mil pessoas. Esses movimentos espontâneos e apartidários começam a causar um mal- estar em parte da classe política, mas, ao mesmo tempo, precisam ganhar densidade em quantidade e em reivindicações caso queiram influenciar os rumos da política nacional.
Em meio a tentativas da sociedade de resgatar o compromisso com a ética e a moralidade, os protestos contra a corrupção começam a despertar reações contrárias. Alguns tendem a classificar esse movimento que começa a se formar como "marchas da insensatez", cujo objetivo seria desmoralizar a política e os políticos. Há também os mais exaltados, como o ex-presidente Lula que, na semana passada, ao receber o título de Doutor Honoris Causa na Universidade Federal da Bahia (UFBA), trombeteou que político tem de ter "casco duro" para enfrentar escândalos e resistir à renúncia.
A declaração do ex-presidente representa um desserviço às tentativas de elevar o padrão da política brasileira. É a voz de quem aceita o sistema viciado e incentiva a resistência a mudanças. É absurdo aceitar como natural o aparelhamento do Estado e os desvios de recursos. O dinheiro desviado pela corrupção é aquele que falta para retirar cidadãos da miséria, melhorar a saúde pública sem precisar de mais impostos, investir na educação e na pesquisa científica.
A insensatez, portanto, não é daqueles que marcham. Mas é de se reconhecer a dificuldade desses movimentos em estabelecer um programa moralizante que permita o avanço institucional. Para não serem indevidamente tratados como episódios carnavalescos, é preciso que esses movimentos espontâneos comecem a dizer "a que vieram". Uma pauta de reivindicações clara, na qual estejam incluídos mecanismos que garantam transparência e eficácia punitiva é bem-vinda. Do contrário, o conselho de Lula terá resultado e a sociedade precisará continuar suportando "cascos duros" de gente que insiste em permanecer no palco, a exemplo de José Sarney (PMDB-AP). Na presidência do Senado, Sarney vivenciou o escândalo dos Atos Secretos, em 2009, sem que isso sequer o afastasse da direção daquela Casa.



