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O Coro da Multidão

Militâncias, mensalões e o autoengano

O mensalão dominou os noticiários na voz dos advogados de defesa durante esta semana. Foi chamado de "uma construção mental que não tem sentido, que não se sustenta" pelo ex-ministro da Justiça e advogado de um dos réus, Márcio Thomaz Bastos. Outros chegaram a dizer que "a denúncia é fantasmagórica". É perfeitamente compreensível que advogados usem da retórica e das frases de efeito para tentar influenciar o discernimento de juízes no julgamento do mensalão. O que não se compreende é a resignação das militâncias nesse caso e em outros que vêm estremecendo o ambiente político brasileiro.

Não é só a resignação das militâncias petistas que assombra. Existiram outros escândalos que poderiam ter sido alvo de crítica de militâncias políticas. Os integrantes de partidos políticos poderiam ter se insurgido contra desvios feitos por filiados a suas legendas em casos como o mensalão tucano em Minas Gerais. As militâncias também poderiam prontamente ter se insurgido contra denúncias locais. Os escândalos da Câmara de Curitiba, por exemplo, requeriam uma postura firme de quem fez da política partidária o exercício de sua cidadania.

Mas o silêncio, por vezes constrangidos dos militantes, sugere que, ao menos parte deles, preferiu o exercício da subserviência nos cargos comissionados.

É de se questionar, e também de se lamentar, o silêncio das militâncias. São elas que podem fazer a diferença para elevar os padrões com que se faz política no Brasil. Ao que parece a estrutura exagerada de cargos comissionados se tornou uma moeda de troca eficiente para manter os militantes disciplinados. A redução de postos de confiança seria uma medida interessante para moralizar o modo pelo qual se faz política hoje. Os comissionados deveriam se restringir a um pequeno número de servidores, convocados para suprir necessidades pontuais da administração pública.

Os militantes podem voltar a fazer a diferença na política, como já fizeram nos tempos das "Diretas Já" e da redemocratização brasileira. Fingir que o mensalão é uma ilusão indigna de crédito é praticar o autoengano às últimas consequências. Às militâncias cabe o controle político de seus dirigentes. Quando não o fazem correm o risco de se tornar fantoches ou funcionários de gabinete.

Pode até ser que algumas das provas na denúncia sejam frágeis e que isso venha frustrar parte da opinião pública. Mas aceitar que o episódio do mensalão é uma ficção orquestrada por oposicionistas, mídia golpista ou qualquer outro inimigo imaginário é de uma inocência – ou o seu oposto, de uma perversidade – fabulosa. Espera-se das militâncias um papel de relevo na nova política. Não esse silêncio que começa a pôr em xeque o seu potencial de ser ator de relevo na vida política brasileira.

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