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Um grupo de manifestantes no Facebook está compartilhando uma imagem em que se lê: "Greve Geral na Copa do Mundo – O mês que mudaremos o Brasil de uma vez por todas, do dia 12 de junho a 13 de julho". É difícil prever o que isso quer exatamente dizer e o que vai acontecer na Copa. Ninguém sabe se haverá a adesão em massa a protestos, nem se as manifestações serão violentas. A Copa do Mundo começa em menos de 30 dias marcada pela incerteza sobre o alcance das manifestações de rua. Entretanto, se os protestos ocorrerem durante a Copa com o uso da violência, os manifestantes estarão inviabilizando as causas que dizem defender.

A explicação para isso é bem simples – o Estado possui uma força repressiva infinitamente superior à dos manifestantes violentos. Ao usar a violência, ataca-se onde um Estado é mais forte, o que, portanto, conduz ao fracasso. O argumento é de Gene Sharp, professor de Ciências Políticas da Universidade de Massachusetts Dartmouth e conhecido por um influente trabalho sobre luta não violenta para derrubar ditaduras. Sharp diz que "ao depositar a confiança nos meios violentos, escolhe-se exatamente o tipo de luta em que os opressores quase sempre têm a superioridade".

Se a violência não é método eficaz nem mesmo contra uma ditadura, ela é injustificável numa democracia. No regime democrático, a possibilidade de diálogo, de mobilização e de disputa política está sempre aberta para a participação de todos os cidadãos. Não há, portanto, legitimidade no uso da violência, o que condena qualquer manifestação violenta ao fracasso.

Independentemente da ficção de se mudar o Brasil em 30 dias, como acreditam alguns manifestantes, há a necessidade de se pensar o modo de se aperfeiçoar o regime democrático. Esse é um desejo comum de grande parte da sociedade. Em sua obra Da Ditadura à Democracia, traduzida para dezena de idiomas, Sharp elenca 198 estratégias de luta não violenta, que permitem a mudança de uma sociedade. A obra pode ser encontrada em: http://bitly.com/1lurrcV. Abaixo segue algumas das ideias de Gene Sharp úteis para ativistas cujo desejo é melhorar as instituições brasileiras.

Aonde se quer chegar

A ideia de que dá para improvisar e ver no que as coisas vão dar não é eficaz. Segundo o professor norte-americano, o primeiro passo é ter plano para saber aonde se pretende chegar. Segundo Gene Sharp, "o uso eficaz da capacidade intelectual pode traçar uma rota estratégica que criteriosamente utilizará os recursos disponíveis para mover a sociedade em direção à meta da liberdade e da democracia". Portanto, é preciso estudar, compreender a dinâmica social e investir em estratégias que sejam eficazes no objetivo de aperfeiçoar a democracia.

Fortalecendo a sociedade

Para Gene Sharp, "indivíduos isolados geralmente são incapazes de produzir um impacto significativo sobre o resto da sociedade". Portanto, é preciso fortalecer grupos sociais e instituições independentes da sociedade, assim como fortalecer a população, desenvolvendo competências e a habilidades que permitam conferir a elas liberdade e autonomia. "Esses órgãos são importantes para servir os seus próprios objetivos e também para ajudar a atender às necessidades sociais. Eles fornecem as bases institucionais e de grupo através das quais as pessoas podem exercer influência sobre os rumos da sua sociedade."

Os meios pacíficos

Há, segundo Sharp, quase duas centenas de métodos não violentos contra governos ilegítimos, que podem ser divididos em três categorias: protesto e persuasão, não cooperação e intervenção. O erro comum, diz ele, é depender de apenas um ou dois métodos. Mesmo com a ressalva que Sharp escreve pensando em resistência contra ditaduras, a visão do professor norte-americano é muito lúcida a respeito da desnecessidade do uso da violência para promoção de mudança. E se uma ditadura pode cair sem atos violentos, o aperfeiçoamento da democracia também pode acontecer de forma pacífica.

Removendo corruptos

É preciso criar oportunidades, afirma Sharp, para novos atores assumirem os cargos que sustentam o regime, removendo deles funcionários de estado e políticos corruptos.

Conclusão

Ao condenar o uso da violência, Gene Sharp demonstra que, com um plano estratégico bem estruturado é possível, por meio de uma sucessão de atos pacíficos, derrubar uma ditadura. E se é possível derrubar pacificamente uma ditadura, é possível também – por meio da execução de um plano de longo prazo – aperfeiçoar a democracia brasileira, tornando-a mais inclusiva, mais participativa e menos corrupta sem a prática de atos violentos.

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