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Não será tentando resgatar o passado que os municípios do Paraná irão construir o futuro. Os problemas atuais são anos-luz mais complexos que os de décadas anteriores – envolvem crise ambiental, distorções agudas na política, cidadãos inquietos e atuantes, modelo econômico inadequado à sociedade do conhecimento. Em vez do apego à nostalgia, um caminho mais apropriado para a sustentabilidade – ambiental, econômica, social, política – é o que vem sendo construído pelo movimento Cidades em Transição (www.transitionnetwork.org).

Criado em Totness, no sudoeste da Inglaterra, e com ramificações no mundo todo, inclusive no Brasil, o movimento trabalha com uma série de premissas para efetivar mudanças que conduzam as cidades ao desenvolvimento sustentável. Na obra Manual das Iniciativas de Transição, Rob Hopkins, o fundador do movimento, entende que o modelo tem base em uma série de princípios e práticas “criadas ao longo do tempo através da experiência e observação de comunidades à medida que avançavam no desenvolvimento da resiliência local e na redução das emissões de carbono”.

O movimento apresenta um viés bastante prático, experimental, orientado para ação transformadora. Também pudera, Rob Hopkins, tem suas raízes fincadas na cultura maker (de fazer/realizar coisas) – ele foi punk na juventude, movimento que sempre valorizou o “faça-você-mesmo”, em vez de aceitar ser um mero expectador.

Professor no Schumacher College, instituição cujo foco é a atividade transformadora para o desenvolvimento sustentável, Hopkins considera que o modelo de transição envolve dimensões comportamentais, valorativas e econômicas. Os cidadãos desempenham papel central, muito diferente da visão estatista que domina parte da cabeça dos brasileiros. Em vez de responsabilizar terceiros, numa lógica de “alguém deveria agir...”, o movimento estimula a cultura do “vamos fazer”.

Cidades são compreendidas como “espaços de possibilidade”, em vez de clones imitativos sem vida. Por essa mesma lógica, valoriza-se produtos “locais” em detrimento do que é feito em “qualquer lugar”. E iniciativas sustentáveis que hoje são de nicho, como consumo de orgânicos e energia limpa, são desenvolvidas para se transformarem negócios principais da cadeia produtiva.

O movimento postula, ainda, a necessidade de se reinvestir a riqueza em projetos locais, especialmente a acumulada pelos mais abastados, em vez de dispersá-la.

Note-se que esses princípios, se aplicados, mudam radicalmente a compreensão sobre a organização e a gestão da vida das populações nas cidades. Se as pessoas e organizações da sociedade passam a ter uma relevância fundamental, governos tornam-se apenas mais um agente do ecossistema urbano, mas não o ator todo poderoso do qual todos dependem.

De outro lado, se iniciativas locais são valorizadas, abre-se espaço para a indústria criativa se expressar em toda a sua potencialidade e evita-se rotulações desconectadas com a realidade do lugar, copiadas de outros estados ou países. Cria-se, também, oportunidades para que empresas de impacto, focadas em desenvolvimento sustentável, saúde e educação, proliferem suas atividades. E, por fim, rompe-se com a tradição de baixo investimento dos super-ricos, que passam a entender o quão poderoso é o investimento em iniciativas locais para a transformação das cidades.

Nesses tempos em que eventos extremos ocorrem, e tendem a ocorrer com maior frequência, – dada a aceleração da modernidade, o avanço da tecnologia e seu impacto social, a vertiginosa degradação do meio ambiente – um retorno às práticas do passado é mero escapismo. Os métodos e valores do modelo de transição despontam como mais apropriados, e mais sedutores, para a construção de um futuro melhor.

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