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Ficha Limpa ameaçada

Em breve o STF deve analisar a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa. Como alguns dos ministros já se manifestaram publicamente pela inconstitucionalidade da lei, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral pretende evitar que a Ficha Limpa seja declarada inválida. Para tanto organizou um abaixo-assinado on-line em que pede à presidente Dilma Rousseff (PT) que, ao escolher o próximo ministro do STF, selecione uma pessoa que esteja comprometida com a erradicação da corrupção. Pois, como a ministra Ellen Gracie acaba de se aposentar, o próximo nomeado pode ser voto decisivo para validar a Lei da Ficha Limpa. O apoio ao Ficha Limpa pode ser feito no endereço: www.avaaz.org/po/ficha_limpa_under_threat_/?twi

Mande e-mails (rhodrigodeda@gmail.com), publique no Twitter (#ocorodamultidao) ou no Facebook.

Novas passeatas pela moralização da política devem acontecer nas próximas semanas, embaladas pelo êxito brasiliense na Marcha Contra a Corrupção, que reuniu cerca de 25 mil pessoas no Distrito Federal no Dia da Independência. Em 12 de outubro, a manifestação deve ocorrer novamente em Brasília e em diversas outras cidades do país. Os próximos acontecimentos serão um teste para que a marcha não seja entendida apenas como um evento isolado. E, é claro, há o risco de que a adesão da sociedade venha a ser menor, em especial se todas as fichas forem depositadas exclusivamente na mobilização via redes sociais.

Com a razão turvada pela euforia, analistas apressaram-se em apontar as redes sociais como o fator de sucesso do evento e a imaginar o surgimento de uma nova sociedade politizada. É claro que as redes tiveram seu mérito. É claro que há estratos da sociedade com disposição de ir às ruas dizer não à corrupção. Mas, as redes sociais, sozinhas, não explicam o êxito brasiliense e nem garantem uma repetição do sucesso ocorrido no Sete de Setembro.

Em maior ou menor grau, outras capitais como São Paulo e Curitiba também usaram as redes sociais para realizar a marcha. Nelas também residem pessoas incomodadas com a corrupção e dispostas a sair às ruas. Mas, em um dos protestos da capital paulista convocado via Facebook, compareceram 4 mil pessoas. Em outro,quinhentas. Feito de improviso, num dia frio e chuvoso, 80 corajosos capitanearam a Marcha em Curitiba. A questão a ser respondida é: por que em Brasília tudo foi tão diferente?

Certamente contribuiu para o sucesso a absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) pelo plenário da Câmara no processo de cassação. De fato a absolvição da deputada, por voto secreto de 265 deputados contra 166, ampliou a adesão ao evento. Mas isso não explica o fenômeno.

A chave para entendê-lo está fora das redes. A organização do movimento não se restringiu ao Facebook ou ao Twitter. Segundo um dos coordenadores da marcha, Walter Magalhães, pelo menos quatro reuniões presenciais foram realizadas. Na primeira, além dele, havia apenas Lucianna e Daniella Kalil, irmãs. Na segunda reunião, foram dez pessoas. Na terceira, 15 e, na quarta, ocorrida um dia antes do evento, 60 pessoas ajudaram a organizar a manifestação.

Para atuar no "mundo real", os organizadores fizeram uma "vaquinha" de uns R$ 5 mil, usados para imprimir 20 mil panfletos e para comprar material para confeccionar cartazes e faixas. Em pelo menos duas ocasiões, Walter e outros organizadores foram ao encontro das pessoas para divulgar a marcha. Distribuíram panfletos em um shopping e na rodoviária. Afixaram cartazes em universidades e colégios. "Não foi só pela web", afirma ele. "Ela se tornou algo fora da rede e forte. Em todos os cursinhos, nas faculdades, sempre tinha alguém divulgando. A própria população foi espalhando."

Conclusão: as redes são boas em conectar pessoas. São bons lubrificantes para as engrenagens sociais. Porém, sem a criação de vínculos no "mundo real", dificilmente elas sozinhas conseguem fazer uma marcha à brasiliense.

Neste momento, a euforia faz com que analistas vejam na marcha o surgimento de uma primavera árabe local, impulsionada pelas redes sociais. Entretanto, a distância geográfica e cultural que separam a juventude dos países do norte da África e do Oriente Médio dos jovens brasileiros faz com que essa comparação seja equivocada.

A Marcha contra a Corrupção realizada no Sete de Setembro pode ter sido um ponto de virada de uma sociedade que passa novamente a se ocupar das questões públicas. Mas pode ter sido também apenas algo episódico, sem potencial de mudança contra práticas políticas antirrepublicanas. A leitura que se fará da marcha, daqui alguns anos, dependerá do êxito em mobilizar novamente a sociedade nas próximas manifestações.

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