A frase já virou bordão até em peças do Festival de Teatro de Curitiba. Nas redes sociais, em protestos semanais no Congresso Nacional por todo o lugar se ouve o "Feliciano não me representa". Poderia ser engraçado, é preocupante, mas pode vir a ser promissor.
O aspecto lúdico é também curioso. O deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) conseguiu uma mobilização contra a permanência dele na Comissão de Direitos Humanos tão intensa que ofuscou outros colegas de parlamento em situações igualmente constrangedora. Há semanas ninguém mais lembra de protestar contra Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi eleito presidente do Senado, apesar de estar respondendo uma série de denúncias perante à Justiça. Ninguém mais dá bola para João Paulo Cunha (PT-SP) e José Genoino (PT-SP), deputados condenados no julgamento do mensalão que foram eleitos membros da comissão da Câmara responsável por analisar se os projetos de lei que tramitam na Casa são constitucionais.
O aspecto preocupante é que o bordão pode gerar ideias confusas isso porque "se Feliciano não me representa, logo, não poderia estar no Congresso". O fato é que Feliciano representa muita gente. A representatividade é de pelo menos 211.855 eleitores que votaram nele para defender seus interesses em 2010. E mais, há uma campanha no Facebook, compartilhada 71 mil vezes, de gente que quer o pastor como candidato à Presidência.
O problema com Feliciano não é de representatividade. O problema é que ele tem um passado de ofensas a grupos minoritários e, recentemente, proferiu declarações desarrazoadas. Chegou a dizer que, antes de passar a integrar a Comissão de Direitos Humanos, ela "era dominada pelo Santanás". Esse estilo causa apreensão. Feliciano transmite a imagem de uma personalidade intolerante, que tem instigado um embate completamente desnecessário com militantes de defesa das minorias.
Apesar do conflito gerado, todo esse episódio pode vir a ser promissor. Assim que Feliciano passar, seria importante que os ativistas, agora mobilizados na luta pela preservação de direitos individuais, utilizassem seu poder de pressão para combater problemas igualmente sérios como a falta de transparência do poder público e o combate à corrupção. A falta de moralidade na política e a corrupção são problemas que também afetam a vida em sociedade e que deveriam fazer parte da agenda de movimentos setoriais, como o LGBT, o de afrodescendentes ou o de ciclistas urbanos.
Com a experiência dos manifestantes se acumulando, eles vão fazer a diferença na mobilização para defender causas mais abrangentes e que dizem respeito diretamente a interesses de todos os cidadãos.



