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Imagine um ambiente virtual em que crianças de 11 a 14 anos vivenciam experiências sociais nos mais variados sistemas políticos existentes e que já existiram. Em vez de apenas explicar como funciona, imagine que o professor faz os estudantes interagir, se organizar e experimentar os diferentes cenários políticos para a tomada de decisão – a democracia direta, a ditadura, a democracia representativa e outros modelos existentes, que já existiram ou imaginários.

A ideia é atraente. Mas fica apaixonante quando se descobre uma forma simples de implantá-la. O projeto Politicraft, elaborado pela empresa Zueira Digital, propõe que se use como plataforma o MinecraftEdu, uma variante do Minecraft – um jogo de construção para múltiplos jogadores em ambiente aberto e num ambiente tridimensional. A partir do Politicraft seria possível construir diferentes sistemas de organização social, como tribos, cidades, estados; diferentes sistemas políticos, usando diversos modelos de deliberação; e diferentes sistemas de interação entre jogadores, por meio de discursos, propostas e leis.

“Em uma discussão sobre jogos e política que participei recentemente, pensei na experiência de jogar o Minecraft em dinâmicas políticas e sociais. Tínhamos uma espécie de cidade-estado que funcionava praticamente como democracia direta, e a gente interagia com jogadores de outras cidades”, afirma o designer gráfico Bruno Bulhões, um dos membros da empresa. “Aí achei que isso poderia ser interessante em sala de aula.”

Foi a partir da ideia de Bulhões que a equipe formada também pela designer e roteirista de jogos Ingrid Skare, pelo relações públicas Maurício Perin e pelo desenvolvedor Anderson Vermonde estruturou o projeto do Politicraft. Vale dizer, não foi algo de meses para modelar a ideia. Foi em... uma semana.

Milkathon

O Politicraft nasceu numa espécie de hackathon da Hotmilk, a aceleradora de Startups da PUCPR. O evento fez parte da fase final do processo de seleção das 15 novas empresas que serão aceleradas. Das mais de 60 inscritas, 22 startups haviam sido classificadas para participar do “Milkathon”, cuja duração foi de uma semana. O desafio da maratona de desenvolvimento consistiu em criar aplicativos, metodologias ou projetos de cunho social para duas instituições – o Hospital Pequeno Príncipe e o Instituto Atuação.

Nos dois primeiros dias da maratona as startups foram conhecer a realidade e os desafios das duas entidades. Em seguida, passaram sábado e domingo desenvolvendo a ideia com apoio de mentores. Numa pesquisa rápida de internet o time da Zueira Digital descobriu que já havia iniciativas internacionais usando o Minecraft até para ensinar física quântica para crianças.

Nos dias posteriores prepararam a apresentação do projeto. Durante a exposição do projeto, ficou demonstrado que o Politicraft pode ser um meio poderoso para incentivar a cultura política a partir dos 11 anos de idade. Rendeu também à equipe da Zueira Digital uma das 15 vagas da aceleradora, para se dedicar a desenvolver o “Princess Game” – um jogo de intriga social cujo protagonista é uma princesa sequestrada num reino em guerra civil.

Cultivando política

O poder do Politicraft reside na arte de combinar um jogo eletrônico com temas políticos e projeto pedagógico. Pela proposta o professor tem um papel central, porque ele vai conduzir todo o processo de vivência dos estudantes no ambiente virtual. “Pensamos em trabalhar em algo que , a partir das habilidades existente na equipe, pudessemos desenvolver e tivesse impacto de longo prazo. Daí surgiu a ideia de fazer um ambiente para ser usado por professores e alunos”, afirma Maurício Perin.

Sem dúvida iniciativas que façam crianças aprender a debater, vivenciando as regras dos diversos sistemas políticos, é um bom começo para se ter impacto de longo prazo. Projetos como o Politicraft podem evitar que crianças e jovens se transformem em “trolls das redes sociais”, com comportamentos rudes e totalitários. Podem também ampliar o alcance da cultura política, desenvolvendo cidadãos interessados em transformar o país num lugar mais participativo, menos corrupto e verdadeiramente democrático. Eis uma prova que dá para aprender política pelo vídeo game.

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