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Até que ponto Curitiba está disposta a crescer? Adensar áreas centrais é essencial para a sustentabilidade das cidades, mas há jeitos e trejeitos de se fazer isso. A capital paranaense está começando a repensar a legislação sobre zoneamento e o uso do solo, como mostrou reportagem da Gazeta do Povo publicada na quarta-feira. Então, ainda dá tempo de discutirmos as propostas e projetos para construirmos o lugar que queremos – as quais valem para qualquer centro urbano, aliás.

O setor imobiliário defende o adensamento de bairros residenciais. Em poucas palavras: querem construir edifícios para dezenas ou centenas de moradores em terrenos onde hoje há casas com poucas famílias. Obviamente, nenhuma cidade pode ser regulada a partir de interesses econômicos de determinados grupos. Por outro lado, há vantagens em concentrar maior número de pessoas em regiões onde há oferta de serviços urbanos. Que caminho seguir?

Em discussões como essa, não dá para ser simplista. Não se trata de um embate entre progresso e idealismo, mas uma oportunidade para discutir um novo modelo de cidade.

Para começar, precisamos responder à pergunta lançada no início desse texto. Qual o limite que queremos atingir? Lembrando que o crescimento populacional desordenado ocasiona uma série de problemas sociais, urbanos e ambientais, como trânsito, violência, falta de vagas em escolas e exploração indevida de recursos naturais.

Posso apostar que, de dez moradores de Curitiba, pelo menos nove têm pavor de que nos tornemos uma cópia de São Paulo, com seus grandes problemas urbanos, sociais e ambientais. Paulistanos: não nos considerem arrogantes. Há muita coisa boa em São Paulo. Mas morar em uma megalópole onde o abastecimento de água está em risco – o sistema Cantareira está puro lodo – não é o sonho de muitos.

São Paulo, pelo seu pioneirismo e protagonismo, cometeu erros que não são mais tolerados pelos cidadãos. Mesmo intervenções pequenas são contestadas. Recentemente, o cantor Nando Reis tentou recorrer à Justiça para barrar a derrubada de espécies no bairro Itaim Bibi, mas era tarde demais. Como protesto, gravou um vídeo enquanto as serras elétricas exterminavam as árvores. Gera comoção, mas nada mais, pois a legislação local permite isso.

Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo mostrou a indignação de moradores do bairro Ipiranga com a derrubada de uma figueira centenária. "Se basta plantar 12 mudas para cortar uma árvore centenária, que faz parte da história de um bairro, fica muito fácil para as construtoras derrubar em vez de buscar uma alternativa", declarou uma moradora.

Fica fácil para as construtoras, e mesmo assim não faz sentido: como é que não dá para manter uma árvore em um terreno em que cabem três torres residenciais, com um total de 61 apartamentos (cada um com duas a três vagas de garagem, conforme diz o descritivo da construtora)? Uma figueira não cabe no terreno, mas caberão toneladas de concreto, centenas de pessoas e centenas de carros? Não dá para entender.

O zoneamento de alguns bairros de Curitiba pode ser modificado, mas com muito cuidado e planejamento, mantendo as áreas verdes, o conforto espacial e térmico. Não se pode aceitar uma legislação que permite o plantio de mudas a quadras de distância de onde uma árvore foi derrubada. Ou novos paredões de concreto colados um ao outro, como os existentes na Avenida Sete de Setembro. Ou prédios de 20 pavimentos com recuo inferior a cinco metros da calçada, como um que está sendo erguido na Rua Amintas de Barros, no Centro.

Para acabar, destaco a conclusão de um estudo sobre o Plano Diretor de Porto Alegre feito por Júlio Celso Vargas (2003), que se aplica perfeitamente a Curitiba: "Nossos bairros têm características singulares, aspectos físicos, funcionais e simbólicos próprios, paisagens e morfologias peculiares, guardando a história da cidade em si e construindo ao longo dos tempos um imaginário coletivo e uma real condição de uso e fruição da cidade que a distingue de todas as outras".

Por isso...

Dê sua opinião sobre o zoneamento dos bairros de Curitiba. Pode trocar ideias com esta colunista, mas o principal é falar com a prefeitura: Ligue para o 156 ou escreva no site http://www.central156.org.br/

Quer ler mais sobre o estudo de Vargas? Acesse: http://bit.ly/1moVFy7

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