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O cobrador sumiu do ônibus em diversas cidades do mundo. Na Inglaterra, na Alemanha, na França, em Portugal... Será isso coisa de "primeiro mundo"? Em Curitiba e no Brasil precisaremos, até o fim dos tempos, de cobradores?

Entendo que a dupla função pode ser muito estressante para o motorista. Mas o ideal seria ter mais motoristas e uma tabela de horários condizente com a realidade do trânsito curitibano – para que os condutores não precisem "voar" com o ônibus.

Respeito o trabalho dos cobradores, mas ao mesmo tempo acho que podem fazer mais, e sofrer menos. Lidar com dinheiro é desgastante, lidar com o público, idem. Sofrer risco constante de assalto e abuso verbal não melhora a situação.

O problema não é cobrar e dirigir. Em Curitiba, o Circular Centro existe desde 1981. Não tenho certeza se nunca houve cobrador no micro-ônibus, mas, seguramente, desde o começo dos anos 90 o motorista atua sozinho. Alguns desses veículos são um pouco menores que os micro-ônibus amarelinhos, mas a diferença não é grande.

O problema é ter uma rotina estafante. O problema é ter que trabalhar em um sistema no qual o bilhete eletrônico é exceção, e não regra. O problema é trabalhar em cidades inseguras e violentas, prejudicadas pela falta de políticas públicas de uma grande turma de velhos conhecidos (para ficar nos mais recentes: Sarney-Alvaro-Collor-Itamar-Requião-FHC-Lerner-Lula-Richa-Dilma).

Atualmente há uma lei proibindo a dupla função em Curitiba, mas sabemos que nem tudo que é lei no Brasil é válido; além disso, essa lei ainda está em vigor pela inabilidade da prefeitura e da Câmara em discutir o assunto mais a fundo e propor alterações ao sistema do transporte público e fiscalizá-lo.

Se você defende a presença de motorista e cobrador em todos os ônibus, ok. Mas ajude-me a responder: em que casos eles são realmente necessários? Eles melhoram a segurança dos usuários? Mas, com que frequência há notícias sobre acidentes ou colisões envolvendo o Circular Centro? Ou ônibus amarelinho? Por outro lado, quantos acidentes ocorrem envolvendo o biarticulado ou o ligeirinho (nos quais o motorista não exerce dupla função)?

Tentei obter esses dados ontem com os órgãos oficiais, mas não foi possível. Fico devendo essas estatísticas. Recorrendo ao onipresente Google, localizei dezenas de notícias que ajudariam nas respostas, mas não é o caso de citá-las, pois não é assim que se faz uma análise.

O que provoca acidentes, então? Talvez não seja apenas o estresse do trânsito, pois os biarticulados circulam em canaletas exclusivas. O problema não seriam os horários muito rigorosos? Então não seria o caso de reduzir a jornada dos motoristas e contratar mais condutores – como, por exemplo, quem hoje é cobrador?

Bilhete único

Se cobrar é um problema, porque não é extinta de vez a possibilidade de pagar a tarifa com dinheiro? Nesta semana a Gazeta do Povo mostrou que o cartão-transporte de Curitiba é usado por apenas 55% dos usuários. Em São Paulo, o meio de pagamento eletrônico é o bilhete único, adotado por aproximadamente 94% dos passageiros. Mas lá o sistema é bem diferente, com diversos benefícios para quem o usa.

O bilhete único em São Paulo trouxe também uma grande vantagem para os trabalhadores nas empresas de ônibus, e para a sociedade de maneira geral: o número de assaltos caiu 95%. Isso mesmo: de 11.394 casos em 2003 para 609 em 2013.

Há uma lei em São Paulo que manteve a função de auxiliar no ônibus, e por isso os cobradores continuam atuando. Se lá esse sistema está funcionando, tudo bem. Mas acho que as pessoas que hoje exercem essa função poderiam exercer outras atividades nas quais a presença humana é realmente necessária. Como agente de trânsito, policial, professor, médico, engenheiro...

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