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Pode parecer conversa de menininha, mas é assunto sério. O Paraná é um dos estados em que há maior desigualdade de gênero. Só perde para Santa Catarina. Rio Grande do Sul, nosso parceiro regional, teve desempenho bem melhor – quem diria, o machismo por aquelas bandas não é lá grande coisa.

Essa conclusão faz parte do estudo A Mensuração da Desigualdade de Gênero: Um Índice para os Estados Brasileiros, da pesquisadora Luísa Cardoso. Ela se baseou em um índice do Fórum Econômico Mundial – o Global Gender Gap Index (GCI), mas buscou dados que mostram a realidade cultural, política, econômica e social do Brasil.

Muita gente pode olhar esses dados e achar que não condizem com a realidade. Afinal, as mulheres compõem a maior parte da população. Com certeza você conhece diversas mulheres que ocupam cargos de chefia, que recebem bons salários. É um fato. Mas há milhares de mulheres que enfrentam situações adversas.

Antes de começar, uma história pessoal: há alguns anos, fiz um teste para trabalhar em outra empresa do ramo jornalístico. Passei pela prova e, se não me engano, apenas mais dois colegas conseguiram. Fomos convocados para uma entrevista individual com uma banca com três jornalistas. Tenho a convicção de que o fato de ser mulher pesou contra mim. Os detalhes não vêm ao caso, mas foi uma experiência muito frustrante.

É tão estranho pensar sobre desigualdade de gênero no mundo contemporâneo que o assunto acaba virando tabu. Parece ser coisa de feminista. Mas não é. É a realidade brasileira, e por isso são necessárias políticas públicas específicas para este público.

O que chama a atenção no estudo de Luísa Cardoso é que a realidade brasileira não é uniforme. No geral, o Nordeste se saiu melhor, mas não há um padrão bem definido.

Para elaborar o Índice Nacional de Desigualdade de Gênero (INDG), a pesquisadora pesquisou quatro dimensões: participação econômica e oportunidades; educação; poder político; e saúde e sobrevivência. Na dimensão de saúde, praticamente todos os estados mostraram que há uma situação de igualdade. Na área educacional, idem. As grandes diferenças entre os estados foram observados na representação política e na economia.

A dimensão política levou em conta a proporção de homens e mulheres no parlamento (senadores, deputados federais e esta­duais), no número de secretários de estado e de governadores no período de 1989 a 2009. Portanto, os estados que não tiveram uma governadora no período já saí­­ram em desvantagem – no Maranhão, os dois mandatos de Roseana Sarney entre 1995 e 2002 garantiram igualdade de gênero no subíndice político (nota igual a 1).

Mas, mesmo desconsiderando a dimensão política, o Paraná tem um nível de desigualdade altíssimo em termos de participação econômica e oportunidades. Foi o segundo pior do país, com nota 0,691, atrás apenas de Santa Catarina (0,670). O índice do Brasil na esfera econômica ficou em 0,738.

Os dados que compõem essa dimensão são: razão entre a participação feminina e masculina no mercado de trabalho e a razão entre os ocupantes de altos cargos; razão entre o salário médio estimado de homens e mulheres; quantidade de profissionais técnicos; e disparidade salarial entre mulheres e homens que ocupam a mesma posição.

Este último item é o que causa maior assombro. Aceito a tese de que algumas funções exigem, ou se encaixam melhor, no perfil de homem ou mulher. Mas, se há um cargo com as mesmas responsabilidades, como pode haver salários diferentes? E, mais grave: como aceitar que em determinados estados essa diferença quase não existe, mas é uma tendência forte no Paraná? Não faz nenhum sentido, e por isso é revoltante.

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