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68,7% das mulheres de 15 a 17 anos de idade com um filho ou mais não estudavam nem tinham completado o Ensino Médio em 2012, segundo o IBGE. Entre as mulheres sem filho nessa idade, a proporção se inverte: apenas 11,9% estavam fora da aula, e 88,1% estavam estudando.

A vida é cheia de som e ócio no Ganchinho, bairro ao Sul de Curitiba. No meio da tarde, dezenas de pessoas e crianças ficam nas ruas do conjunto Iguaçu III, sem fazer nada, apenas passando o tempo. Os adultos, a maior parte composta de mulheres, faz parte da categoria "nem-nem", medida pelo IBGE: não trabalham, nem estudam.

O número assustador de jovens que nem trabalham, nem estudam, conforme divulgado pelo IBGE ontem, já tinha sido alvo de reportagem na Gazeta do Povo em 22 de outubro de 2012. Um a cada cinco jovens está nessa situação, um contingente de 9,6 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos. Naquela época, alguma autoridade se impressionou com a notícia? Algum projeto foi lançado? Foi tomada alguma ação concreta direcionada aos jovens? A presidente Dilma Rousseff fez algo? E o governador Beto Richa? E os prefeitos que assumiram em 2013, dentre eles Gustavo Fruet, fizeram algo concreto para os jovens? Se alguém souber de algo, por favor me avise, pois desconheço.

O que conheço é a situação de descaso que se perpetua nas comunidades carentes. No mês passado, fui a um conjunto popular de Curitiba, no bairro Ganchinho, para uma reportagem. A visita, além da notícia, valeu por uma aula de sociologia. Se os políticos conseguissem enxergar essa realidade e se importassem com ela, teríamos uma sociedade melhor.

Conversei com as mulheres, que relataram: ficam em casa porque precisam cuidar dos filhos. Em muitos casos, o problema é que a creche ou escola não oferece atendimento em período integral. Há situações mais graves, em que não há sequer vaga em creche próxima.

Para essas mulheres, de famílias de baixa renda, não há alternativa. Não há como pagar uma babá para cuidar dos filhos. Se o poder público não oferece um local seguro para deixar as crianças, melhor que fiquem em casa.

Essa situação não está restrita ao Ganchinho, e não é de hoje. Em 2012, entre agosto e outubro, percorri diversos bairros de Curitiba, mostrando o que o próximo prefeito poderia fazer para melhorar a vida dos cidadãos. No Uberaba, na Cidade Industrial, no Abranches, no Pilarzinho e em tantos outros locais, a situação era a mesma: no meio da tarde, donas de casa andando com seus bebês para lá e para cá, pois não havia vagas em creches.

A existência de uma vaga em creche ou escolha é um direito não só da criança, mas também do adulto responsável por ela. E também é um direito difuso de toda a sociedade. Esse contingente de jovens que não trabalham nem estudam – um em cada cinco – faz falta na geração de conhecimento e de riquezas do Brasil. É óbvio que essas pessoas deveriam ser melhor aproveitadas, seja em sala de aula convencional, seja em curso profissional, em um escritório, uma indústria, ou no caixa de um grande supermercado – aquele que nunca consegue preencher todas as vagas em aberto, tem poucos funcionários para atender e provoca a ira dos clientes, que passam um tempo absurdo na fila.

Reivindicações

Sem trabalhar nem estudar, esses 9,6 milhões de jovens não têm condições de se mobilizar e reivindicar por mudanças. Por isso as demandas deles deveriam ser encabeçadas por outros grupos da sociedade: associações, alas jovens dos partidos, diretórios acadêmicos, conselhos da juventude, Ministério Público, OAB, imprensa.

Quais são as demandas? A emergencial é a garantia de vagas em creches em período integral. Em seguida, com alto grau de urgência, é a educação, pois é preciso melhorar o nível de ensino desses jovens.

É triste constatar que esses direitos estão sendo negados e não se toma nenhuma providência a respeito – na verdade, mal se discute o tema. Enquanto o ócio perdura no Ganchinho, os políticos acusam-se mutuamente de mensaleiros ou corruptores do metrô. Isto é: além de todas as ilegalidades – comprovadas ou em investigação –, eles ainda desperdiçam tempo e dinheiro público em xingamentos e discursos inócuos.

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