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A presidente Dilma Rousseff reclamou dos rivais oposicionistas, os quais têm criticado a política econômica do governo federal. Segundo a presidente, eles não passam de uma versão do Velho do Restelo, personagem da obra Os Lusíadas que tinha visão pessimista sobre tudo.

Pessoalmente, não veria problemas em ser tachada dessa forma pela presidente. Governantes, de uma forma geral, não gostam de jornalistas. Entretanto, vamos dar uma colher de chá à presidente e vamos tentar lançar um olhar otimista para tudo o que está ocorrendo.

O programa lançado na quarta-feira pela presidente é sensacional. O Minha Casa Melhor dará subsídios às famílias do Minha Casa, Minha Vida comprarem móveis com financiamento de 5% ao ano, contra até 12% que era praticado pela Caixa. Mas a "bondade" não é responsabilidade do banco, mas sim do Tesouro Nacional, que vai injetar R$ 8 bilhões na instituição. Nunca vi nome mais apropriado, afinal esse tal de Tesouro é uma joia mesmo. Num passe de mágica, serão transferidos cerca de R$ 8 bilhões para o programa, por meio da emissão de títulos da dívida. E o Tesouro nem vai cobrar de volta da Caixa... Não é tão fácil fazer essa operação, mas o governo federal é muito mais esperto do que todos nós e tira isso de letra.

Será tão chique, pois as casas de muitos brasileiros ficarão cheias de móveis novos e, o que é melhor, eletrônicos, todos feitos na China e em Taiwan – já que a indústria nacional não consegue competir com o preço dos produtos que vêm de fora.

Falando em produtos feitos na China, o comércio com esse país nunca foi melhor. O Brasil vende milhões de toneladas de soja em grão para aquele país, e compra milhões de dólares em manufaturados. É por isso que vemos tantas filas de caminhões nos portos brasileiros. E olha que interessante: se o transporte de cargas fosse feito por trem, não teríamos a chance de testemunhar como nosso comércio internacional está em ritmo acelerado. Amigo, da próxima vez em que pegar a estrada para viajar, não fique praguejando contra os caminhões que encontra pelo caminho. É o preço do sucesso brasileiro... Ah, e as rodovias não são duplicadas justamente para mantermos uma velocidade média abaixo de 80 km/h, perfeita para contemplar os caminhões carregados. É uma imagem linda.

Inflação

Outra vantagem de o Brasil receber muitos produtos importados da China: como eles são baratos, ajudam a segurar a inflação. Não que ela esteja descontrolada. O governo consegue manter ela na linha – às vezes é uma linha ascendente, mas todos sabemos que altura é sinal de status. A presidente tem total controle sobre a inflação, tanto que em março pediu ao prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para transferir o aumento da passagem de ônibus para outro mês, para não coincidir com a alta dos preços dos alimentos. O reajuste foi aplicado agora, e os protestos são grandes, mas recaem agora sobre os governantes de São Paulo, bem longe de Brasília.

Sem noção

Não é possível continuar a coluna nesse tom. Se esse é o tipo de análise que a presidente espera ler, melhor que deixe de acompanhar o noticiário. Não só ela, mas todos os prefeitos e governadores precisam aprender a conviver com divergências. Como estão sempre cercados de bajuladores, vivem em uma bolha, e acham que a imprensa ou especialistas exageram.

Quando alertamos sobre os perigos do retorno da inflação ou sobre a inefi­ciência de se fomentar ainda mais o consumo, não estamos torcendo para que o pior aconteça. Estamos apenas fazendo o básico: analisando o presente, tendo em mente as lições aprendidas no passado e as perspectivas futuras.

Para o Brasil se desenvolver, precisa investir em infraestrutura. As grandes obras e investimentos garantiriam o salário e a renda de milhões, que poderiam comprar televisão e móveis à vista, sem necessidade de entrar num financiamento de 48 meses do programa Minha Casa Melhor. Com essas grandes obras prontas, o custo do transporte e de outros serviços cairia bastante. Não só daria uma ajuda à indústria nacional, que ganharia competitividade, como também seria fundamental para o controle da inflação.

Se falar isso significa torcer contra o Brasil, terei que mudar minha nacionalidade.

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