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Em um novo loteamento do Minha Casa, Minha Vida, a repórter ouve de Carolina, 11 anos, o seguinte pedido: "Você pode esperar minha mãe voltar? Ela foi buscar a nossa mudança, mas tem gente que invadiu a nossa casa. Então eu queria que você fosse até lá, para as pessoas saírem da nossa casa." A menina aguardava na casa de uma conhecida pelo retorno da mãe, que tinha ficado desesperada com a notícia de invasão no Loteamento Iguaçu III, no bairro Ganchinho, no sul de Curitiba.

A repórter, infelizmente, não tem como atender ao pedido da garota, e tenta explicar a situação: "Quem precisa resolver isso é a Caixa, que é proprietária do sobrado enquanto sua mãe não assinar o contrato. Se a Caixa não conseguir resolver a situação, com a ajuda da Cohab na negociação, então será preciso chamar a polícia. O que posso fazer é escrever no jornal sobre isso. Vou escrever que é preciso resolver essa situação, pois há famílias preocupadas em perder suas casas para os invasores".

Esta não é a ocasião para detalhar os desdobramentos do caso (mais detalhes em bit.ly/GSvao7), porque a intenção é apenas dar um exemplo das centenas de injustiças sociais testemunhadas por jornalistas diariamente.

O repórter, como cidadão, tem o poder de interferir na vida de uma comunidade por meio do trabalho voluntário, como qualquer pessoa. Mas o ofício do jornalista tem propósito um pouco diferente nesses casos: denunciar a omissão ou deficiência do setor público em proporcionar bem-estar e justiça social.

Como qualquer trabalhador, o jornalista também enfrenta dificuldades e percalços para cumprir sua função. Uma das partes que considero mais desgastante é conviver com políticos e seus asseclas, que criam um mundo de fantasia paralelo ao mundo real.

Essas pessoas, junto com servidores públicos de alto escalão – como membros do Judiciário, Ministério Público e tribunais de contas – têm o costume de se sentirem perseguidos pelos meios de comunicação. Inventam teorias conspiratórias contra a imprensa em vez de explicar seus malfeitos. Em um texto em que é usada a palavra "roxo", concluem que o objetivo do jornal é denegrir determinada pessoa, já que deveria ter sido usada a palavra "lilás". Não percebem que o roxo foi escolhido porque era uma palavra menor ou porque (e isso ocorre na maior parte das vezes) simplesmente foi a palavra que veio à cabeça do repórter no momento.

Após o encontro com Carolina, a repórter procura os órgãos responsáveis para que deem satisfações. Obviamente, não é porque o jornal tem algo contra a Caixa ou a Cohab. Mas é porque essas instituições precisam se explicar – não para o repórter, nem para os editores e nem para o jornal, mas para Carolina e sua família.

Muitas vezes, as reportagens não são feitas com personagens, e estão baseadas apenas em estatísticas ou declarações. Mas a realidade social, que é de conhecimento do jornalista, permeia todos seus textos.

Então, quando um repórter questiona os desembargadores do Tribunal de Justiça (TJ) sobre as regalias e os carros de luxo que são usados, é em crianças como Carolina que ele está pensando, porque o desperdício de dinheiro público impede a nação brasileira de acabar com suas mazelas sociais. Quando algum repórter questiona o presidente do TJ sobre um procedimento disciplinar que tramita no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o objetivo é fiscalizar a conduta de um servidor público e exigir a transparência e eficiência previstas na Constituição Federal.

O mesmo ocorre quando o repórter questiona a prefeitura sobre a divulgação dos salários dos servidores; quando faz reportagens mostrando o gasto elevado dos deputados estaduais com churrascos, telefonemas e propaganda indevida; quando questiona o governo do estado sobre a contratação de um número excessivo de comissionados; quando faz reportagens mostrando o abuso nos gastos com viagens do governo federal; e tantas outras situações.

Boas práticas

Após um período de férias, volto a escrever neste espaço com espírito renovado para denunciar as barbaridades cometidas no setor público e exaltar as boas práticas de gestão. Peço desculpas pelas obviedades descritas, mas por vezes é necessário reafirmá-las. Até a próxima semana!

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