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Planaltolândia é uma terra cheia de cabeças ocas, onde quem tem cabelo é rei. Na verdade, nenhum fio consegue crescer em ambiente tão insalubre, e por isso alguns habitantes, querendo se impor sobre os outros, optam pelo implante capilar. Para não dar nas vistas, viajam para terras longínquas fazer a delicada operação.

Alguns sujeitos adotam essa prática apenas para se exibir nos restaurantes estrelados de Planaltolândia. Outros, mais ambiciosos, exibindo tal conteúdo em suas cabeças, conseguiram conquistar alguns eleitores e apoiadores. Após um estágio no Centro Organizado Nacional de Gestos Repulsivos E de Situações para Sacanear os Outros (C.o.n.g.r.e.s.s.o), se elegeram para a mais alta Câmara da cidade.

Os políticos de Planaltolândia são parlamentares que contam com benefícios especiais. Têm casa e comida de graça, mas ainda recebem salário e uma ajuda de custo – a qual, teoricamente, deveria atender às demandas dos eleitores, mas que acaba se convertendo no salário dos seus funcionários preferidos: os puxa-sacos e os caras de pau.

Além disso, esses políticos podem usar o transporte oficial de Planaltolândia, uma espécie de nave espacial com serviços de primeira classe. É um meio moderno de se viajar: basta estalar os dedos que a nave aparece. Sem necessidade de comprar passagem, sem filas, com poltrona na janelinha e até um lanchinho.

A nave espacial está disponível apenas para assuntos relacionados ao trabalho. Mas os políticos mais experientes, que estudaram bem os meandros do C.o.n.g.r.e.s.s.o, sabem como contornar essas exigências. Primeiro, repetem à exaustão que trabalham em prol da sociedade durante o dia todo, e à noite também. Uma segunda estratégia é forjar reuniões fictícias com algum político local ou um empresário. Por exemplo: o parlamentar vai a um casamento e esbarra em um deputado estadual. Conversam sobre os queijos e vinhos servidos na festa. Mais tarde, o parlamentar vai dizer que teve uma importante reunião sobre abastecimento e cesta básica.

Como essas estratégias são usadas pela grande maioria dos parlamentares de Planaltolândia, nenhum deles vai dedurar aquele que viaja com a nave para fazer um implante capilar. Os iguais se protegem, e assim mantêm a sobrevivência da espécie de cabeças ocas.

Há parlamentares que usam o dinheiro da ajuda de custo para pagar helicópteros que transportam produtos importados. Outros usam o dinheiro para participar de uma comitiva que vai a Paris. A trabalho, claro. Nesses casos, não é preciso nem justificativas ou apresentação de resultados, basta mostrar a foto de uma reunião em que todos estão engravatados.

Por vezes histórias como essa vazam, e chegam ao conhecimento de todos os habitantes de Planaltolândia. Muitos ficam indignados, mas na prática pouca coisa acontece. As leis protegem os parlamentares. Além disso, eles têm muitos favores a recolher dos puxa-sacos e cabeças ocas que contrataram, e dos familiares e vizinhos destes. Os mais espertos acumulam também favores com empresários e políticos locais, e com isso garantem reeleição permanente.

Vida real

Enquanto o presidente do Senado brasileiro, Renan Calheiros, usa jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB) para seus passeios, o presidente do Uruguai, José "Pepe" Mujica, dirige o próprio Fusca no trajeto diário para o trabalho. Pepe continua morando em uma chácara humilde, o que contrasta com as residências oficiais da realeza – ops – dos chefes dos Três Poderes no Brasil.

Não se trata de demagogia – Pepe era assim e se manteve fiel ao seu estilo. É uma atitude bastante incomum, e não precisa virar um exemplo a ser copiado pelos homens públicos. Mas será que esse ato não faz nem cócegas na consciência dos nossos governantes?

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