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O fim das sacolas plásticas nos mercados paulistas repercutiu bastante entre os consumidores paranaenses, mas não impressionou o governador Beto Richa (PSDB), que vetou uma lei com propósito semelhante aprovada pela Assembleia Legislativa em dezembro. A norma paranaense permitiria apenas o uso das sacolas biodegradáveis e valeria para todos os estabelecimentos e para o poder público. No estado vizinho, a medida foi tomada por iniciativa do varejo. Lá estão à venda sacolas a base de amido de milho, menos agressivas ao ambiente, por R$ 0,10 a R$ 0,20 a unidade.

Na justificativa do veto, Richa disse que o custo das sacolas especiais recairia sobre o consumidor. Além disso, argumentou que a lei criava a im­­pressão de que as novas embalagens não são nocivas ao meio ambiente. "Essas embalagens supostamente biodegradáveis são plásticos oxidegradáveis ou fragmentáveis, que recebem aditivos químicos para acelerar o processo de degradação", diz o texto.

Talvez a lei aprovada pela Assembleia fosse muito drástica mesmo, mas não basta vetar o texto com um contra-argumento questionável. O governo precisa tomar alguma iniciativa para contribuir com a redução do uso das sacolas plásticas. O curioso é que o governador já poderia ter encaminhado propostas alternativas durante a tramitação do projeto, entre março e dezembro. A Assem­­bleia ainda pode derrubar o veto de Richa. Não é o indicado, já que os varejistas não participaram da discussão da lei e têm contribuições importantes a fazer. O pior é que já estamos bastante atrasados.

As sacolas plásticas são usadas e descartadas de maneira assustadora no Brasil, algo em torno de 12 bilhões por ano. No Rio de Janeiro, que adotou limitações contra a sacola comum em 2009, houve redução de 25% no consumo no prazo de um ano. Há um ponto interessante na lei fluminense: a cada cinco itens comprados, o cliente que não usar sacola tem um desconto de pelo menos R$ 0,03 nas compras. É simbólico, mas pelo menos é um incentivo positivo, não um ônus para quem usa.

Além de exigir ações do governo, precisamos agir por conta própria. Não é uma panaceia. Para a maioria das famílias, usar sacola retornável é muito fácil. Basta deixá-la no porta-malas do carro.

Especialistas do Instituto Akatu, de consumo consciente, confirmam que, dependendo do saco de lixo, ele também vai demorar cerca de 100 anos para se decompor, assim como a sacola. Mas o saco grande acondiciona mais lixo, e há opções biodegradáveis ou recicladas. O fundamental, como dito pelo colunista Efraim Rodrigues na Gazeta do Povo e tantos outros, não é exatamente eliminar as sacolas (que são só uma parte pequena da poluição mundial), mas tomar consciência do que é necessário, do que é excesso. Nesse caso específico, se todas as pessoas que têm carro reduzissem o uso dos plásticos, já seria um grande ganho ao meio ambiente, mesmo que famílias mais pobres, que não têm como arcar com o custo do saco de lixo, continuassem usando-as. Se todos deixassem de usar carro seria ainda melhor para o meio ambiente, mas isso é utópico, ao passo que reduzir o uso das sacolas não, é algo factível.

O discurso de que a limitação do uso da sacola beneficia apenas os supermercadistas é um tanto quanto raso. Vários países, como Alemanha, Itália, Irlanda e Suíça, já cobram pelos sacos há vários anos, e os consumidores levam de casa suas sacolas de pano ou retornáveis.

Em breve, a União Europeia (UE) deve tomar medidas rígidas nessa linha. Em 2011 foi feita uma consulta pública sobre o assunto, com a pergunta: "É ne­­cessário que a UE adote medidas para reduzir o uso das sacolas no bloco?" Das 15.538 contribuições, 10.112 escolheram "concordo totalmente"; outros 2.063 disseram que concordavam; cerca de 3 mil discordavam.

Portanto, essa é uma tendência mundial, não apenas mesquinharia dos varejistas com o intuito de reduzir custos. Em vez de esbravejar contra eles e se recusar a mudar de hábitos, o mais certo é exigir leis inteligentes e incentivadoras, além de mais investimento do poder público em educação ambiental e reciclagem.

Presente

Há uns cinco anos, uma amiga que foi para a Europa trouxe de presente para as pessoas próximas grandes sacolas plásticas retornáveis. Ela se tornou companheira de mercado, junto com outra, de lona. E, mesmo diminuindo o consumo desse jeito, as sacolas de plástico continuam aparecendo lá em casa. Quem fizer o teste pode se surpreender ao ver que realmente não precisa de tantas sacolas assim.

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