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60% dos curitibanos estão insatisfeitos ou muito insatisfeitos com o policiamento no bairro onde moram, de acordo com levantamento feito pelo o Instituto Paraná Pesquisas.em julho de 2012

A reportagem que está sendo publicada pela Gazeta do Povo traz dados preocupantes sobre a escalada da violência em Curitiba. A triste verdade é que esses números só traduzem uma realidade com a qual estamos cada vez mais acostumados.

Moradores de todos os bairros de Curitiba têm reclamado muito da falta de segurança. Tenho ouvido as reclamações pessoalmente, para reportagens sobre a vida dos eleitores. Alguns comerciantes não querem nem falar sobre o assunto, justamente porque já foram vítimas de assaltos. Preferem não se expor, não reclamar.

Os assaltantes não se intimidam nem mesmo nas regiões onde há policiamento. No Jardim das Américas, por exemplo, que é um bairro pequeno e conta com um módulo da Polícia Militar, as residências são alvo constante de roubos, ainda.

Apesar de não evitar assaltos, a presença da polícia cria uma sensação de segurança nos locais públicos. Nas praças, parques, nas ciclovias, no calçadão da XV, no Largo da Ordem há pedidos para maior circulação da polícia, seja a pé, de bicicleta, cavalo ou carro.

Nas regiões onde foi instalada uma Unidade Paraná Seguro (UPS), geralmente a avaliação dos moradores é positiva. Mas, além do policiamento constante, o poder público, em todos os níveis de governo, precisa agir de forma constante e integrada, em várias frentes. Uma das funções das UPSs é abordar carros suspeitos, buscar automóveis roubados ou furtados e tentar localizar criminosos. Pode-se obter bastante coisa com essas blitze, mas é preciso agir mais a fundo.

Por exemplo: outro dia presenciei a fúria de moradores da vila Cidade de Deus, no bairro Parolin. Uma ação policial prendeu um homem foragido da prisão; os militares relataram agressões por parte dos moradores, e ocorreu um tiroteio. O foragido e um menino de 15 anos foram levados. Nesse momento cheguei, com o fotógrafo, o motorista e o carro da reportagem. A população nos cercou, para reclamar dos policiais. Segundo eles, o menino teria presenciado o espancamento do foragido, pelos policiais, e por isso teria se revoltado. "Ele é um menino trabalhador, porque o levaram?", questionavam, indignados. A polícia garante que agiu dentro da lei e só revidou às agressões sofridas.

Mas o problema da comunidade é muito mais complexo e profundo. Em pleno meio da tarde, dezenas de pessoas e crianças estavam em casa. Por que as crianças não estavam na escola? Ou em atividade de contraturno? Não há nenhuma escola nas imediações que ofereça isso? Ou eles não queriam? E os adultos? Muitas mães precisam ficar em casa com filhos pequenos porque não conseguem vagas em creche – não há dinheiro para pagar uma creche privada. Se a mãe não trabalha, muitas vezes ela mesma ou o filho pequeno se envolve com o tráfico, pois é uma maneira de garantir um dinheiro para o sustento. Também há homens, adultos, que poderiam, deveriam estar produzindo algo naquele horário. Alguns são ex-presidiários, outros têm algum tipo de deficiência. Será que essas pessoas tiveram alguma oportunidade melhor? Como manter essas pessoas longe do tráfico, se às vezes é a única opção?

Havendo creches, havendo oportunidades de emprego, escola em tempo integral ou contraturno, a chance de envolvimento com a criminalidade diminui muito. Mas essa estrutura mínima não deve ser ofertada apenas aqui em Curitiba ou região metropolitana. Todo o estado precisa ter um bom nível de desenvolvimento, condições dignas de vida.

Tem me surpreendido a quantidade de pessoas do interior do Paraná que diz que se mudou para Curitiba recentemente. As pessoas cansam da falta de condições nos pequenos municípios e continuam fazendo esse movimento, inchando cada vez mais a capital.

Cada um tem direito a morar onde quiser, mas isso deve ocorrer realmente por vontade própria, e não por falta de opção no lugar onde se vivia. É dever do poder público planejar o desenvolvimento de todo o seu território, com atividades industriais, comerciais, com fomento ao ensino, ao desenvolvimento de pesquisa, ao turismo rural, e outra série de possibilidades.

Sem medo

Minha amiga Vanessa teve a residência furtada recentemente. Nem ela, o marido ou a filha pequena estavam em casa, por sorte. Mas é triste viver em uma época em que ficamos aliviados quando os assaltantes "só levaram os equipamentos eletrônicos", ou "só levaram o carro". Não dá para se acostumar com isso, achar que isso é normal.

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