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Eduardo Cunha foi atingido pela decisão do Conselho de Ética, mas não está morto politicamente, muito pelo contrário. Ele continua poderoso e, agora, com o risco iminente de perder tudo – cargo, dinheiro, liberdade --, poderia entregar tudo que sabe dos bastidores da política e das negociatas.

Talvez não por meio de uma grande delação, que vem sendo aventada há alguns dias. Ele, aliás, nega veementemente que fará qualquer colaboração premiada. Na sua página do Facebook – repleta de fãs –, ele veio reiterar mais uma vez que é apenas coincidência que sua nova advogada assinou acordos de delação na Operação Lava Jato.

Mesmo acuado com decisões recentes da Justiça – que decretaram indisponibilidade de bens e aceitaram denúncia contra sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz –, Cunha manteve o bom humor. Disse nesta quinta-feira (16) que teria dificuldades para achar algum profissional que não tivesse feito acordo de delação. “Se formos ter de restringir que advogado que participa de delação não advoga para quem não participa, faltará advogado no mercado”, afirmou.

Afastado da Câmara dos Deputados em 5 de maio por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), Cunha continua sustentando que não cometeu nenhum crime, por isso não teria o que delatar. Bom, isso faz parte da estratégia de defesa, certamente. É a mesma postura que ele tomou quando avisou que não renunciaria à presidência da Casa.

Desde 5 de maio, a presidência da Câmara é ocupada interinamente por Waldir Maranhão (PP-MA). Interinamente e falsamente, porque na prática o deputado federal Fernando Giacobo (PR-PR) é quem conduz a sessão plenária. Waldir Maranhão até ensaiou comandar o Parlamento, mas simplesmente lhe faltam condições técnicas e verbais para tal.

Aliados de Cunha vem pressionando-o desde então para que renuncie ao comando da Câmara. Isso serviria para negociar uma absolvição na Casa e poderia diminuir o ímpeto do STF contra ele. É bom lembrar que permanece na mesa do ministro Teori Zavascki o pedido da Procuradoria-Geral da República pela prisão de Cunha.

Além disso, a renúncia permitiria nova eleição para a presidência, destituindo de vez Maranhão, que entrou para a história ao tentar anular a sessão da Câmara que votou pela admissibilidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Mesmo com o pedido de aliados pela renúncia, mesmo sendo a melhor estratégia para o STF, que não iria mais interferir no funcionamento da Câmara nem nas investigações que correm contra ele, Cunha se negou a renunciar. Acha que a renúncia é para culpados, e ele diz que é inocente.

Com a delação premiada, pelo menos no horizonte do médio prazo, a situação será a mesma.

Cunha precisa manter a aura de inocente, mesmo que a Justiça declare o contrário. Ele continua recebendo o apoio de muitas pessoas que dizem que ele está sendo perseguido por ter levado Dilma à guilhotina – no caso, o impeachment. Há outro público, talvez ainda mais numeroso, que reconhece a existência de crimes na conduta do peemedebista, mas sugere uma anistia por ele “ter livrado” o país do governo vermelho.

Pelo menos por enquanto, mesmo execrado pela opinião pública e cercado pela Operação Lava Jato, o deputado do Rio de Janeiro pode ainda sonhar em voltar ao poder com o apoio de seus fãs.

E é por isso que talvez falte advogado para livrar Cunha de todas as acusações, porque ele dá mostras que tentará comprovar que é inocente, custe o que custar.

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