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| Foto: Sérgio Lima/Folhapress

Oposição

Inimigo histórico, PSDB é o que mais se opõe ao governo federal

Na outra ponta das votações, o partido que mais se opôs à presidente Dilma Rousseff até agora foi o PSDB, um inimigo histórico. Em três anos de gestão da petista, a taxa de votação dos deputados tucanos a favor de projetos do governo ficou em 21,1%. Entre o mais fiel está o próprio PT – partido da presidente –, cujo índice de fidelidade ficou em 94,3%.

Apesar de marcar território e fazer uma oposição sistemática nas votações na Câmara, o PSDB está distante de representar uma ameaça real a Dilma, segundo especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo. De acordo com eles, a legenda ainda não encontrou um discurso capaz de tirar votos de Dilma nas próximas eleições.

"O PSDB não deu conta de construir um discurso que questione os ganhos sociais e econômicos no governo do PT", argumenta Malco Camargos. "Até existe um desejo de mudança na classe média, mas na vida da maioria da população – nas classes mais baixas e nas cidades mais pobres – as políticas públicas do governo federal ainda têm surtido muito efeito."

Seguindo o mesmo raciocínio, Antônio Octávio Cintra critica o que ele considera a arrogância do PSDB ao se comparar aos demais e o "bom mocismo" dos tucanos, que jamais usaram as armas que o PT utilizava quando era oposição, segundo o especialista. "O PSDB ainda não descobriu por onde pegar seu discurso."

Trabalhos são reabertos com polêmica

O Congresso Nacional abriu ontem os trabalhos de 2014 em sessão no plenário da Câmara, com a leitura da mensagem da presidente Dilma Rousseff cobrando responsabilidade fiscal do Congresso. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, também participou da cerimônia. Na presença de Barbosa, o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), repetiu ontem o gesto que marcou a prisão dos petistas condenados no julgamento do mensalão. Por mais de duas vezes, Vargas ergueu o punho cerrado. Ao se entregarem à Polícia Federal para cumprirem a prisão, o ex-presidente do PT José Genoino e o ­­ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) ergueram o punho. O gesto foi inclusive reproduzido por petistas nas redes sociais. Vargas é um dos principais críticos do julgamento do mensalão.

O ano legislativo do Congresso começou ontem diante de um cenário ruim para a presidente Dilma Rousseff: em 25 anos, a base aliada na Câmara dos Deputados nunca havia sido tão infiel ao Palácio do Planalto. Em 2013, Dilma teve o índice mais baixo de fidelidade (73,3%) entre os aliados desde o fim da redemocratização no país, em 1989. A média da petista em três anos de governo (79,1%) também é a pior na comparação com os mandatos dos outros cinco presidentes desde então. O levantamento é do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

INFOGRÁFICO: Média de fidelidade dos deputados no mandato de Dilma é o pior entre os últimos seis presidendes

Calculada a partir da comparação entre o voto dos deputados da base e a orientação dada pelo líder do governo na Câmara nas votações nominais, a taxa de fidelidade caiu quase 16 pontos porcentuais em três anos de mandato. O levantamento leva em conta os partidos que chefiavam ministérios ou secretarias com status de ministério. Para especialistas, apesar de os aliados fiéis ao Executivo ainda serem ampla maioria, a queda de fidelidade requer certa atenção do governo.

Histórico

Em 2011, o índice de fidelidade fechou em 89,1%, número superior a cinco dos oito anos de mandato do ­­­ex-presidente Lula, por exemplo. Já em 2012, a taxa caiu para 75,5%, até bater em 73,3% em 2013. Esses dois últimos porcentuais são os piores índices de fidelidade registrados desde 1989.

Na média, Dilma contou com a fidelidade de 79,1% dos aliados, índice abaixo da média histórica de 84,8% entre 1989 e 2013. O número da petista também está distante do obtido no segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que fechou com 90,5% – o maior do ranking.

Um dos fatores para explicar a queda, sobretudo em 2013, está na rebelião iniciada pelo PMDB, que detém a segunda maior bancada da Câmara. Desde as últimas semanas do ano passado, a legenda exige ter mais espaço na Esplanada dos Ministérios e também briga para ocupar pastas de maior visibilidade.

Análise

Doutor em Ciência Política e professor da PUC de Minas Gerais, Malco Camargos explica que o índice de fidelidade deve ser avaliado com cuidado. Ele cita que o ex-presidente Fernando Collor, por exemplo, teve 91,8% de fidelidade dos aliados nas votações em 1992, quando teve de renunciar para não sofrer o impeachment. "Não adianta ter aliados fiéis, mas em número pequeno, como era o caso do Collor", alerta.

Segundo ele, presidentes que constroem alianças têm dois caminhos a seguir. Num deles, fazer a maior coalizão possível, por confiar pouco na base e ter de negociar com mais parlamentares. No outro, estabelecer uma coalizão mínima e confiável, na qual negociam com menos gente e têm de ceder menos. "Não há como cravar se a presidente foi ganhando confiança em certo grupo e diminuindo o tamanho da base ou se entrou em atrito dentro do grupo e perdeu a confiança dos deputados ao passar do tempo", afirma. "Mas o que é melhor para o governo? Evidentemente, é ter uma coalizão o menor possível, mas que garanta maioria e menos custos de negociação."

Já o cientista político Antônio Octávio Cintra, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais, avalia que a conjuntura política, econômica e social favorável construída pelo PT está vivendo o fim de um ciclo. Diante disso, os aliados estão vendo aumentar o seu poder de barganha. "A perda de fidelidade reflete isso. O pessoal está sentido certa fraqueza do governo e vai cobrar mais alto pelo apoio. Estão tentando barganhar: ‘vamos apoiar, mas...’", argumenta.

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