
As Jornadas de Junho, como ficou conhecido o movimento popular e autônomo que levou milhares de brasileiros às ruas em 2013, acabaram de completar três anos. O que começou como um protesto contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo logo somou outras reivindicações e se transformou em um movimento diverso em pautas (do genérico “contra a corrupção” à reforma política), participantes e reações – inclusive por parte da polícia e da classe política. Parecia que o gigante havia acordado.
Veja fotos dos protestos que mexeram com Curitiba
Três anos depois, o país permanece em alerta. Apesar de, em 2013, ainda não ser possível prever a dimensão das manifestações populares que estavam por vir, as Jornadas podem ser consideradas embrionárias de uma nova forma de participação política. De lá para cá, os brasileiros reagiram a uma tumultuada Copa do Mundo; às eleições presidenciais cujos resultados dividiram o país e a um processo de impeachment. O avanço da Operação Lava Jato a passos largos rumo ao Congresso também foi catalisador.
À direita, à esquerda
O analista político Rogério Godinho, que prepara um livro no qual vai abordar o “junho de 2013”, aponta pelo menos dois aspectos das Jornadas determinantes da mobilização social que se organizou no país nos três anos seguintes.
Se de início as manifestações foram convocadas por grupos ligados à esquerda, rapidamente a agenda múltipla de reivindicações superou a categorização por espectro político: todo mundo foi para a rua, inclusive uma parcela da população que não tinha tradição de protestar.
“A primeira fase é a dos protestos sem ligações partidárias, com uma pauta com viés de esquerda, que é a do passe livre. Depois as manifestações crescem e é difícil falar em posicionamento, porque todo mundo estava lá, esquerda e direita. Mas em seguida houve um deslocamento da pauta para reivindicações mais alinhadas com a direita.”
É dessa guinada que surgem e se fortalecem grupos como o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua, peças centrais das manifestações de 2014 a 2016, contra o governo federal.
“Os movimentos de 2013 e 2015 são diferentes, mas se deram no mesmo ambiente. Os grupos de esquerda que começaram os movimentos de 2013 perderam a direção do movimento e a capacidade de impor agenda porque a sociedade heterogênea foi para a rua”, comenta Mario Sergio Lepre, professor de Ciência Política da PUCPR.
Saem siglas, entram pessoas
Para ele, o maior ganho do “junho de 2013” foi o protagonismo do cidadão comum, desvinculado de sindicatos, partidos políticos e outras instituições tradicionais de representação política – nascia um movimento feito por pessoas e não por siglas.
Ainda assim, ele lembra, no ano seguinte a política voltou institucionalizada. “As eleições de 2014 se deram em um ambiente de descontentamento. O sentimento era de mudança, mas o eleito foi a continuidade.” Segundo Lepre, é nesse cenário que a insatisfação popular acumulada desde 2013 passa a ser direcionada ao governo federal, resultando em uma nova onda de protestos em 2015 e 2016.

































