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Dilma: nome para a Fazenda busca agradar ao mercado. Na Agricultura, aos ruralistas | Ueslei Marcelino/Reuters
Dilma: nome para a Fazenda busca agradar ao mercado. Na Agricultura, aos ruralistas| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Pressão

Em abaixo-assinado, esquerda diz que novo Ministério é ‘regressão’Estadão Conteúdo

Intelectuais de esquerda e representantes de movimentos sociais que tiveram papel decisivo na reeleição de Dilma Rousseff criaram um abaixo-assinado on-line no qual cobram da presidente coerência entre o discurso de campanha e as práticas de governo. O abaixo-assinado é uma crítica à possível nomeação da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura e do ex-secretário do Tesouro Joaquim Levy para a Fazenda. Com cerca de 2,5 mil adesões até a tarde de ontem, o texto da petição diz que as escolhas "sinalizam uma regressão". "Os rumores de indicação de Joaquim Levy e Kátia Abreu para o Ministério sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa nas urnas. Ambos são conhecidos pela solução conservadora e excludente do problema fiscal e pela defesa sistemática dos latifundiários contra o meio ambiente e os direitos de trabalhadores e comunidades indígenas", diz o texto do abaixo-assinado, que também exige a participação social na escolha dos novos ministros. Nenhum dos dois nomes foi oficializado pelo governo federal. O anúncio dos novos ministros, que em princípio ocorreria amanhã, deve ocorrer apenas na semana que vem.

As primeiras indicações de Dilma Rousseff para o Ministério de seu 2.º mandato causaram indignação em setores do PT e da esquerda. A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), vista como o símbolo da linha dura do ruralismo no Congresso , é cotada para o Ministério da Agricultura. Joaquim Levy, dado como certo no Ministério da Fazenda, seria um nome para agradar ao "mercado" – mas que desagradou as alas mais à esquerda do PT.

INFOGRÁFICO: Veja os nomes mais cotados para os ministérios

Apesar das aparências, o início da formação do Ministério não indica que Dilma esteja dando uma guinada para a direita. A ideia é apenas a de assegurar apoio mais amplo no Congresso Nacional e na sociedade, dando espaço para partidos e ministros de diferentes origens no espectro ideológico. Segundo o cientista político Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), depois de conseguir a legitimidade (que vem com os votos), é preciso obter a governabilidade (que vem com os apoios políticos).

"E não há tantas maneiras assim para criar governabilidade quando não se tem a maioria absoluta no Congresso. É preciso dividir o governo e repartir as pastas ministeriais entre os partidos para conquistar apoios políticos. Em qualquer democracia é assim", diz Codato. Como uma coalizão homogênea pouco acrescentaria à base de Dilma, é preciso buscar apoio em outras áreas.

No caso atual de Dilma, a presidente precisa de mais apoios especialmente por estar entrando no 2.º mandato com menos capital político do que no primeiro governo, não só por ter tido uma vitória apertada como por estar enfrentando denúncias de corrupção na Petrobras. Para o professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carlos Pereira, as indicações mostram que Dilma busca preencher a expectativa do setor da sociedade que não foi convencido na campanha eleitoral.

"Dilma está em busca de suporte eleitoral e sinalizando aos eleitores que buscam um modelo de governo que valoriza o cenário macroeconômico, além do social", disse. Para o professor, a presidente precisa se precaver também para ter base suficientemente grande para não ficar exposta a possíveis julgamentos políticos no caso da Petrobras – embora, até o momento, não haja qualquer implicação conhecida da presidente nas denúncias da Operação Lava Jato.

No entanto, como o apoio ao governo neste momento parece mais difícil de se obter, uma consequência, segundo o cientista político Malco Camargos (PUC-MG), pode ser a dificuldade na aprovação de novas leis. Camargos acredita que as reformas política e tributária dificilmente acontecerão sem grande mobilização popular. "Com capital político fragilizado pela polarização eleitoral e um Congresso fragmentado, as reformas não sairão sem apoio da população", afirma.

PT do Paraná quer manter representação

O presidente do PT no Paraná, Ênio Verri, afirma que o partido lutará para manter ministros paranaenses no novo governo que se inicia em janeiro. O primeiro mandato de Dilma Rousseff no Planalto teve uma grande participação de ministros paranaenses: foram três representantes no primeiro escalão, além do comando da Itaipu Binacional, que normalmente é reservado para políticos do estado. Para o segundo mandato, a situação parece bem diferente.

Até o momento, dois dos três ministros perderam seus postos: Gleisi Hoffmann saiu da Casa Civil para disputar o governo do Paraná e, derrotada, voltou ao Senado; e já se anunciou que Gilberto Carvalho deixará a Secretaria-Geral da Presidência. Resta, por enquanto, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Além disso, correu ontem o boato de que Jorge Samek, após 12 anos, teria decidido deixar Itaipu. No entanto, a sua assessoria desmentiu a informação.

Verri, que acaba de ser eleito deputado federal, diz que será feito um trabalho "de bastidores" para manter paranaenses no primeiro escalão. "Nossa bancada vai lutar por isso, mas é muito cedo para antecipar qualquer coisa", diz.

Osmar Dias

Visto como um possível nome para o novo ministério, o ex-senador Osmar Dias (PDT) diz que, por enquanto, não conversou sobre o tema com ninguém. "O governo nem está conversando sobre os outros ministérios. Por enquanto, está preocupado em montar a equipe econômica", diz. Osmar foi cotado para a Agricultura – atualmente a senadora Katia Abreu (PMDB-TO) é vista como o nome mais forte para assumir a pasta.

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