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Os gestos do presidente e sua própria agenda oficial de viagens indicam que Luiz Inácio Lula da Silva está com receio de enfrentar a ira da população, especialmente a da região Sul do país.

A avaliação é de interlocutores do presidente, que estão certos do risco de empreender missões oficiais em Estados onde ele é menos popular, dias após o maior acidente aéreo da história brasileira. Diante do perigo de vaias e desforras, a exemplo do que ocorreu na abertura dos jogos Pan-americanos, o Planalto acabou escolhendo o Nordeste como primeiro destino do mandatário. Desde a tragédia, ele não aparece em público.

"Não é uma boa idéia ir para o Sul agora", disse à Reuters um interlocutor do presidente, sob condição do anonimato.

Nas próximas quinta e sexta-feira, Lula visita Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí para lançar o chamado PAC do saneamento e urbanização. É exatamente no Nordeste onde o presidente atinge seus melhores níveis de aprovação.

Nas avaliações políticas discutidas nos gabinetes palacianos nos últimos dias, Porto Alegre é visto como campo minado para o petista. Foi de lá que partiu o vôo 3054 da TAM, duas horas antes de se chocar com o prédio da mesma companhia, em São Paulo, na última terça-feira.

O périplo de Lula para apresentar o programa acabou sofrendo interrupção. As visitas ao Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, que constavam na agenda oficial da semana passada, foram suspensas em razão do acidente.

Segundo a Secretaria de Comunicação do Planalto, ainda não há datas para retomar esses compromissos. O órgão nega relação entre as viagens e o receio de enfrentar retaliações, argumentando que os eventos em Estados do Nordeste já estavam previstos, o que dificultou encaixar o Sul na agenda desta semana.

"Não havia como incluir de novo a região Sul porque Norte, Nordeste e até mesmo Centro-Oeste já estavam na fila", argumentou a assessoria de imprensa do Palácio.

Nos bastidores, no entanto, o governo não esconde a avaliação de que o Sul e o Sudeste são territórios cada vez mais hostis. Pesquisas apontam altos níveis de desaprovação ao presidente em São Paulo, sobretudo em relação à condução da crise área e da atuação do governo nos dias posteriores ao acidente em Congonhas. Lula não colocou os pés na capital paulista, gesto que ainda lhe rende muitas críticas.

Medo da vaia

Para interlocutores diretos, submetê-lo a mais um constrangimento agora seria "desastroso".

"Lula está muito preocupado com a repercussão negativa. Ir para o Nordeste é mais fácil, pois lá ele é mais popular. Está indo para um terreno amigo", afirmou o professor David Fleisher, analista político da Universidade de Brasília (UnB).

"O risco de represálias piorou bem depois do episódio com Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência, mas Lula já havia mostrado pulso fraco quando resolveu não falar publicamente após o acidente da TAM. Ele tem medo de enfrentar represálias, deixou isso claro quando fugiu das vaias na abertura dos jogos do PAN e reforçou a tese quando decidiu não dar as caras em São Paulo", acrescentou o analista.

Dois dias após o acidente, Garcia foi flagrado em seu gabinete fazendo gestos obscenos depois de assistir a uma reportagem da TV Globo que denunciava um defeito no sistema de frenagem da aeronave da TAM, detectado dias antes do acidente. A reação do auxiliar de Lula ganhou repercussões negativas e recebeu ataques contundentes por parte de familiares das vítimas.

Sob intenso tiroteio, o presidente só falou à nação três dias depois. Fez o pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, mas ainda não sentiu o clima das ruas, que ele tanto gosta de medir.

Há dez dias, no Rio de Janeiro, Lula já havia protagonizado uma cena constrangedora. Ele deveria ter anunciado a abertura dos jogos do PAN, mas vaias endereçadas a ele, no estádio do Maracanã, fizeram com que ele não cumprisse o ritual.

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