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Exatos quarenta anos depois do desaparecimento de Honestino Guimarães, líder estudantil e presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), ainda não se tem quase nenhuma informação sobre o paradeiro do militante, um dos que viveu mais tempo na clandestinidade. Ele foi preso pelo Centro de Informações da Marinha (CENIMAR), em 10 de outubro de 1973, e desapareceu sem deixar qualquer vestígio.

Em depoimento à Comissão da Verdade do Rio no IFCS, companheiros de política e a filha de Honestino, Juliana Guimarães, que tinha apenas três anos quando o pai foi preso, participaram da primeira audiência pública sobre o paradeiro do militante político.

"Honestino talvez seja o mais nebuloso dos desaparecimentos forçados da ditadura, temos apenas pistas e especulações, o que sabemos é que ele era vigiado por diversos órgãos da repressão. Há especulações de que teria sido levado para a Casa da Morte, e nosso trabalho é tentar montar esse mosaico. Seu desaparecimento quebra o padrão em relação a outros desaparecidos políticos aqui no Brasil", disse Wadih Damous, presidente da Comissão Estadual da Verdade.

Pela primeira vez prestando depoimento em uma Comissão da Verdade sobre o desaparecimento do pai, Juliana Guimarães falou sobre a forma como deixou viva a memória de Honestino e o lançamento de uma campanha para recolher informações sobre o pai.

"A gente tem pistas, mas não tem certeza de nada, não temos o corpo, e a causa da morte está em branco. É muito louco, eu cresci ouvindo histórias, vendo fotos. Tenho poucas fotos e todas as dúvidas. Eu tinha três anos quando ele desapareceu, mas sempre ouvi histórias. Ele sempre esteve presente, hoje estamos lançando uma campanha chamada Trilhas do Honestino, são quarenta anos e não sabemos de nada, mas, com a anistia, conseguimos mudar a certidão de óbito, a causa da morte pra atos de violência do estado e a data da morte, em vez de falecido, para desaparecido. Com a anistia, também encontrei vários amigos do meu pai que me trouxeram muitas histórias, a principal é que ele era uma pessoa de bem com a vida", contou Juliana.

Emocionado, o vereador Eliomar Coelho (PSOL-RJ), amigo e militante ao lado de Honestino na Universidade de Brasília (UnB), falou da trajetória ao lado do amigo e dos encontros com o líder estudantil, quando este já estava na clandestinidade.

"Tivemos uma vivência muito grande por conta da política, nos aproximamos, primeiro em Brasília, depois encontramos aqui no Rio, ele já na clandestinidade. Eu morava em Ipanema, e, vez ou outra, quando a chapa esquentava, ele aparecia e ficava lá em casa. É importante trazer a memória sempre, para que sirva de exemplo inclusive para novas gerações, o que foi viver na luta por idealismo, não só no desejo, mas pela ação concreta, coisa que está meio em desuso hoje", disse o vereador. Em um dos momentos mais emocionantes do encontro, Agostinho Guerreiro, amigo e companheiro de Honestino na organização Ação Popular (AP), contou a história do dia em que Honestino, mesmo na clandestinidade, passou o dia em sua casa brincando com a filha. Agostinho, na época, já era casado com Isaura Botelho, ex-mulher de Honestino e mãe de Juliana.

"Quando convidei ele para ir lá em casa, ele me deu um abraço tão forte que quase me machucou. Foram algumas horas, um momento em que quebramos a regra de segurança, e também tiramos fotografias, o que também era totalmente proibido. Mas ele foi ver a filha, e ficou muito feliz. Éramos muito amigos, além de companheiros de organização. É preciso que as trilhas de Honestino aconteçam, a luta dele não termina. Em nome de todos os militantes e todas as militantes, mas especialmente pelo Gui (como chamava Honestino), eu acuso o CELIMAR, eu acuso os militares e a ditadura militar, para que os crimes não fiquem impunes", afirmou.

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