• Carregando...
Plenário da Assembleia: situação de funcionários ativos e inativos foi alvo de investigação de comissão da Casa | Daniel Castellano / Gazeta do Povo
Plenário da Assembleia: situação de funcionários ativos e inativos foi alvo de investigação de comissão da Casa| Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

37 anos, 11 meses e 10 dias é a condenação do ex-diretor-geral Abib Miguel, o Bibinho, acusado de chefiar o esquema fraudulento que desviou milhões da Assembleia Legislativa do Paraná.

Perda de cargo

Ação no STF questiona progressão na carreira e efetivação sem concurso

Por meio da Diretoria de Comunicação, a Assembleia Legislativa do Paraná informou que segue sumariamente o rito processual da Justiça. "Não compete à Casa julgar, condenar ou tomar decisões em relação aos servidores efetivos antes que qualquer processo tenha transitado em julgado", afirmou. "As medidas cabíveis por parte da Mesa Executiva foram tomadas e, agora, aguarda-se a manifestação da Justiça."

O Legislativo disse ainda que, desde a posse da atual Mesa Executiva, em fevereiro de 2011, realizou uma série de medidas saneadoras na Casa, entre as quais a instituição de uma comissão interna que analisou a situação funcional dos funcionários de carreira – ativos e aposentados. Por fim, ressaltou que os estudos resultaram em uma ação direta de inconstitucionalidade, que questiona progressões na carreira e a própria efetivação de servidores sem concurso. O caso aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) e já recebeu pareceres favoráveis da Advocacia-Geral da União e do Ministério Público Federal.

Condenados pela Justiça por, segundo o Ministério Público Estadual (MP), comandarem a quadrilha dos Diários Secretos, três ex-diretores da Assembleia Legislativa do Paraná ainda custam aos cofres públicos R$ 822,3 mil por ano em salários. Juntos, Abib Miguel, o Bibinho (ex-diretor-geral); José Ary Nassiff (administrativo) e Cláudio Marques da Silva (pessoal) recebem R$ 635,2 mil anuais de remuneração – já com os descontos, como Imposto de Renda e INSS. Dos 19 envolvidos no escândalo que já foram condenados, os três ainda permanecem na folha de pagamento da Casa por serem servidores de carreira.

INFOGRÁFICO: Entenda os métodos de desvio

Acusado pelo MP de chefiar o grupo que desviou pelo menos R$ 200 milhões dos cofres da Assembleia (veja infográfico), Bibinho tem um salário de R$ 31,7 mil, de acordo com a folha de março deste ano. No entanto, como nenhum servidor público do país pode receber mais que um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), a remuneração dele passa por um "redutor constitucional" – e também pelos descontos obrigatórios –, ficando em R$ 20,6 mil. Nassiff tem a mesma situação e os mesmos valores.

Já o salário bruto de Cláudio Marques é de R$ 10,1 mil. Com os devidos descontos, a remuneração dele fica em R$ 7,7 mil.

Situação funcional

Até agora, os três ex-diretores já foram condenados, em 1.ª instância, por peculato (apropriação de dinheiro público), formação de quadrilha e lavagem de dinheiro a pena de 18 anos, 11 meses e 20 dias de prisão em regime fechado – eles recorrem da sentença em liberdade. Bibinho recebeu a mesma condenação em duas sentenças diferentes, somando 37 anos, 11 meses e 10 dias de pena.

Apesar das punições, todos eles continuam no quadro funcional do Legislativo paranaense, uma vez que são funcionários de carreira da Casa (leia ao lado). A efetivação dos três, porém, é pouco clara. Bibinho ingressou na Assembleia em junho de 1956, mas o primeiro registro dele nos arquivos da Assembleia é de agosto de 1987 – aos 47 anos de idade –, já como procurador aposentado. Não há registros de como ele foi efetivado. Depois disso, a partir de janeiro de 1988 até 2010, quando estourou o escândalo dos Diários Secretos, ele exerceu o cargo comissionado de diretor-geral – primeiro como adjunto e, depois, como chefe.

Nassiff, cuja admissão é de dezembro de 1961, também aparece nos arquivos da Casa já como aposentado, em novembro de 1987, quando ele tinha 49 anos. Chama a atenção, no entanto, o fato de ele ter conseguido a aposentadoria como consultor legislativo "por merecimento" e, depois disso, ter progredido para o cargo de procurador também "por merecimento". Por fim, entre 1988 e 2010, ele atuou como comissionado na diretoria administrativa.

Já Cláudio Marques, admitido em abril de 1980, figura como efetivo a partir de janeiro de 1985. Pelo histórico funcional, ele começou como conservador de máquinas, foi atendente de administração, operador pleno, programador, analista de sistemas e, finalmente, consultor legislativo. A partir de agosto de 2006 até o escândalo vir à tona, ele atuou na diretoria de pessoal. Hoje, ele está cedido à Secretaria de Estado do Trabalho.

Demissões só após o trânsito em julgado

Advogado e professor de Direito Administrativo do Unicuritiba, Luciano Elias Reis afirma que, para ocorrer a demissão de servidores de carreira envolvidos em casos como o dos Diários Secretos, é preciso aguardar o trânsito em julgado do processo. Além disso, segundo ele, é necessário que a condenação aponte que existe incompatibilidade com a permanência no cargo. "Se o cidadão foi condenado num acidente de trânsito, não há problema em relação ao cargo público que ele ocupa. Mas, se há algo que diz respeito à questão do cargo público – como crime contra a administração pública –, em tese, o caminho é a perda do cargo", explica.

Reis ressalta, porém, que não há impeditivo para abertura de um processo administrativo disciplinar interno para apurar a conduta do servidor, caso o fato que gerou a ação judicial também configure uma falta administrativa em relação ao estatuto do servidor público. "Se a falta foi cometida no exercício do cargo, nada impede que a administração instaure um processo disciplinar em paralelo ao processo judicial, uma vez que a penalidade funcional é independente da sanção na esfera jurídica", analisa. "Essa independência entre as esferas judicial e administrativa permite, em tese, que haja a cassação da aposentadoria ou a perda do cargo ocupado."

Entretanto, o advogado destaca que decisões como essas requerem cautela. "Se, porventura, o servidor é absolvido mais à frente por qualquer motivo, ele deverá ser reintegrado e vai ter direito a receber todos os valores durante o período em que ficou fora do serviço público. Isso pode gerar uma bola de neve."

Deputados e ex-parlamentares na mira do MP

Desde 2010, quando começaram as investigações sobre o caso dos Diários Secretos, o Ministério Público Estadual (MP) apresentou dez ações criminais sobre o esquema. Todas elas já têm sentença e resultaram na condenação de dezenove pessoas. Entre elas, cinco trabalharam na Assembleia Legislativa. As outras 14 são parentes delas ou pessoas próximas.

O MP também apresentou, entre 2010 e 2012, dez ações civis públicas por improbidade administrativa contra ex-servidores da Assembleia, deputados e ex-parlamentares. Esses processos envolvem os deputados estaduais Nelson Justus (DEM), Alexandre Curi (PMDB) e Nereu Moura (PMDB), e os ex-parlamentares Hermas Brandão e Geraldo Cartário. Todos tiveram algum cargo de chefia na Casa durante o período em que o esquema funcionou. As ações judiciais tramitam em primeira instância e nenhuma foi julgada até agora.

Sete ações estão na 2.ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba, uma na 1.ª Vara e outra na 3.ª Vara. A décima ação, movida contra a Assembleia, foi arquivada em razão do cumprimento da sentença: a 3.ª Vara da Fazenda Pública determinou que a Casa passasse a publicar todos os seus atos na internet e no Diário Oficial do Estado, além de ficar proibida de editar diários avulsos e fora de sequência. Além disso, a Casa teve de republicar na internet os atos dos cinco anos anteriores relacionados aos seus servidores. O MP continua investigando o caso e pode propor novas ações.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]