
O comando do Poder Legislativo voltou ontem pela terceira vez às mãos de dois dos políticos mais experientes em atividade no Brasil. José Sarney, 78 anos, e Michel Temer, 68, venceram com folga as eleições para a presidência do Senado e da Câmara dos Deputados e retomaram a hegemonia do PMDB no Congresso Nacional pelos próximos dois anos. Apesar das relações íntimas de ambos com o Palácio do Planalto, eles prometeram trabalhar pela independência do Parlamento.
As vitórias de Temer e de Sarney conferem aos dois grande poder para influir no governo Lula, em especial na sucessão de 2010.
Sarney ganhou a disputa contra Tião Viana (PT-AC) por 49 votos a 32 oito a mais do que o necessário para garantir a maioria. O maranhense, eleito pelo Amapá, comemorou a vitória e relembrou que completa 50 anos de vida pública em 2009. O ex-presidente da República já havia comandado o Senado entre 1995 e 1996 e entre 2003 e 2004.
Na Câmara, o paulista Temer venceu no primeiro turno por 304 votos contra 129 de Ciro Nogueira (PP-PI) e 76 de Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Ele volta ao cargo que já ocupou por dois biênios (1997-1999 e 1999-2001). O parlamentar também acumula a presidência nacional do PMDB.
Sarney e Temer estão no sexto mandato legislativo. Sem levar em conta a experiência, ambos fizeram discursos de posse em tom de renovação e propuseram modelos de gestão voltados para ajudar o país no combate à crise financeira mundial. "Não me chamem de retrógrado, como se eu fosse um velho que não quer renovar o Senado. Envelheço, mas não envelhece em mim a vontade de lutar pelo Brasil e de me atualizar", afirmou Sarney.
Logo após o resultado da eleição, o senador anunciou duas medidas imediatas. A primeira é o corte de 10% de todas as despesas da Casa, que tem um orçamento anual de R$ 2,7 bilhões 90% dele comprometido com salário de funcionários ativos e inativos.
"Vamos procurar fazer com que, cada vez mais, a gente tenha melhores serviços, gastando menos", disse. Além disso, declarou que instalará uma comissão permanente com "membros do mais alto nível" para acompanhamento do desenvolvimento da crise.
Sarney amenizou o desgaste gerado pelo embate com um candidato do partido do presidente Lula e também tentou explicar as várias demonstrações de desinteresse em participar das eleições. A eleição do maranhense contrariou um acordo firmado em 2007 entre PMDB e PT, no qual os peemedebistas se comprometeram a apoiar um candidato petista à presidência no Senado em 2009 e vice-versa na Câmara.
"O PT, como partido, tinha que lutar pelo candidato dele. Eu mesmo, várias vezes, disse que não era candidato. E sabe Deus que eu era extremamente sincero, porque eu não queria acrescentar mais problemas, mais trabalho à minha vida. Mas, infelizmente, a paixão da vida pública é muito maior que a paixão do bem-estar pessoal."
Tião Viana adotou o mesmo discurso apaziguador, assim como integrantes do PSDB, que promoveram na semana passada uma inesperada aliança com o PT. "Vamos respeitar a vontade da democracia", disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio, do Amazonas.
Temer anunciou menos medidas imediatas, mas destacou que a Câmara enfrentará logo nos próximos dias desafios "urgentes e ingentes". "Mas não vamos nos atemorizar quando eventualmente tivermos que tomar medidas impopulares." O deputado disse que as atitudes terão de ocorrer mesmo com a pressão da imprensa.
O peemedebista esquivou-se das declarações sobre a interferência do Congresso Nacional na sucessão presidencial de 2010. Por outro lado, afirmou que vai preparar a Casa para debater outros grandes temas como a reforma política, emperrada durante a gestão Arlindo Chinaglia (PT-SP) e que se empenhará para melhorar a imagem do Parlamento junto à sociedade. "A dignidade, o tamanho, a estatura pessoal, política, administrativa e moral, a experiência daqueles colegas, homens e mulheres que aqui estão espancarão qualquer dúvida a respeito da eventual inoportunidade de uma medida tomada pela Câmara dos Deputados."




