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Um ano antes do desastre, o Metrô e o consórcio responsável pelo trabalho de perfuração da Linha 4 (Amarela) da Estação Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, já sabiam de um afundamento da Rua Capri, vizinha à obra que desmoronou dia 12 de janeiro, abrindo uma enorme cratera, matando sete pessoas e sugando carros, microônibus e toneladas de destroços. As causas do desabamento eram conhecidas e se desenharam lentamente, segundo revelam documentos internos do Metrô obtidos pela revista ‘Época’.

De acordo com a publicação semanal, as anotações sobre o afundamento da Rua Capri estão registrados em atas de reuniões do Metrô e Consórcio Via Amarela. A documentação está sob investigação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e da Assembléia Legislativa.

Falha na solda

Na semana passada, o "Jornal Nacional", da TV Globo, revelou o conteúdo de laudo elaborado pela empresa Tecnoplani Inspeções. O documento aponta falha na solda da estrutura metálica de sustentação das paredes no canteiro da futura Estação Fradique Coutinho, também na Zona Oeste da cidade e próxima à de Pinheiros.

A análise fora realizada 15 dias após a tragédia que abalou a capital paulista e dizia que problemas estruturais poderiam provocar "acidentes de proporções imprevisíveis".

Paralisação

A reação do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), foi paralisar as 23 frentes de trabalho da Linha 4, até checagem de segurança nas obras.

Metrô e consórcio afirmaram à ‘Época’ que o afundamento estaria relacionado a problemas na rede de água da Rua Capri, versão desmentida em nota emitida pela Sabesp à revista.

Especialistas

A publicação ouviu dois especialistas em obras de engenharia de grande porte do Brasil: o engenheiro Paulo Helene, presidente do Instituto Brasileiro de Concreto Armado e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), e o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, técnico por 30 anos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo.

Ambos foram unânimes em dizer que os registros de afundamento no solo da Rua Capri representam indícios de problemas sérios que não foram enfrentados por "incompetência ou negligência".

"Uma obra como essa não desaba de uma hora para outra sem dar sinais", diz Paulo Helene. Segundo ele, os registros de afundamento na Rua Capri, um ano antes, sugerem falhas graves na gestão da obra. "Sabia-se que o solo estava se comportando de uma maneira que não estava prevista no projeto. Ou os engenheiros não conseguiram detectar a origem desse problema ou, então, detectaram a origem, mas não foram eficientes para resolvê-lo", afirma Helene à reportagem.

De acordo com o geólogo Santos, houve falha dos responsáveis pelo projeto. "Fatores importantes foram desconsiderados, o que é grave. Houve negligência em algum momento", resume.

O primeiro registro de afundamento da Rua Capri, segundo ‘Época’, aparece na ata da reunião do dia 10 de janeiro de 2006, entre representantes do Metrô e do Consórcio Via Amarela, que reúne as empreiteiras OAS, Camargo e Corrêa, Odebrecht, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez. Depois de março de 2006, os registros sobre o afundamento da Rua Capri sumiram.

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