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Segundo Youssef, a parte do dinheiro que cabia ao PT foi entregue ao atual tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Segundo Youssef, a parte do dinheiro que cabia ao PT foi entregue ao atual tesoureiro do partido, João Vaccari Neto.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

A empreiteira Construcap repassou propina de R$ 2,4 milhões para PT e PP para ser favorecida em um contrato da Petrobras entre 2005 e 2006, afirmou o doleiro Alberto Youssef em delação premiada na operação Lava Jato, que investiga esquema de corrupção na estatal. Segundo Youssef, a parte do dinheiro que cabia ao PT foi entregue ao atual tesoureiro do partido, João Vaccari Neto.

A ponte entre a Vaccari e a Construcap para o pagamento da propina foi feita pelo empresário Cláudio Augusto Mente, amigo do tesoureiro do PT, segundo o relato do doleiro. Youssef não detalhou quanto do total foi para o PT, mas afirmou que a legenda partidária ficou com parte dos R$ 2 milhões repassados a Mente pela construtora.

Como revelado no último dia 5, Vaccari e Mente já são alvo de um inquérito na Lava Jato que apura se transações financeiras feitas entre eles em 2008 e 2009 têm ligação com o suposto pagamento de propina pela empresa Toshiba em um contrato do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). A Toshiba nega ter pago suborno.

Nessa investigação, pela primeira vez as autoridades obtiveram documentos bancários que ligam Vaccari a suspeitos de operar no esquema de corrupção na Petrobras. Extratos bancários mostram que uma empresa controlada por Cláudio Mente, a CRA, transferiu R$ 400 mil para a conta da mulher de Vaccari em 2008. No ano seguinte, valor idêntico saiu da conta da esposa do tesoureiro do PT e foi para a conta da empresa de Mente. Vaccari diz que as quantias correspondem a um empréstimo concedido a ele por Mente, seu amigo, para a compra de uma casa.

A Construcap é apontada pela força-tarefa da Lava Jato como uma das construtoras de médio porte que participaram das fraudes na estatal de petróleo.

Em depoimentos em novembro e fevereiro, Youssef afirmou que o repasse da Construcap foi negociado com o deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010, e teve relação com obra na Bahia entre 2005 e 2006. O suborno correspondeu a 1% do valor do contrato, disse o delator.

De acordo com o doleiro, a primeira parcela da propina, de R$ 400 mil, foi paga a ele em espécie por Roberto Capobianco, um dos donos da Construcap, no escritório da empreiteira no bairro da Consolação, em São Paulo. Youssef disse que esse valor teve como destino o PP. O encontro na empresa também contou com a participação de Mente, segundo o delator.

O restante do suborno, R$ 2 milhões, foi repassado a Mente, sendo possível que a empresa dele, a CSA, tenha emitido notas em favor da Construcap para justificar as transferências financeiras, de acordo com o doleiro.

Youssef afirmou que parte dessa quantia foi entregue a João Vaccari Neto, e o valor teria o PT como destino final.

À época, Vaccari ocupava o cargo de presidente da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo). Hoje ele é réu em uma ação criminal na qual é acusado de ter desviado valores da cooperativa para o PT. Vaccari nega ter cometido crimes na Bancoop.

O atual tesoureiro do PT assumiu o cargo no partido em 2010 após deixar a cooperativa.

Em seu primeiro depoimento de delação premiada, em outubro do ano passado, Youssef afirmou que Vaccari “mesmo antes de assumir como tesoureiro do PT atuava perante a Diretoria de Serviços [da Petrobras] dando ordens ao diretor Renato Duque, sendo que alguns pagamentos de comissões devidas pelas empreiteiras, pelo que sabe, teriam sido feitos por meio de doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores”.

Outro lado

O tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o PT e PP negam o recebimento de propina da empreiteira Construcap em contrato da Petrobras.

A construtora também diz que não fez qualquer repasse de suborno para Vaccari ou partidos.

Em nota, o PT e Vaccari apontam que o atual tesoureiro do PT “não ocupava esse cargo na data da suposta transação” e que o partido só recebe doações legais que são declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral.

“Lamentamos que acusações feitas por réus confessos, em processos de delação premiada, estejam ganhando divulgação. De maneira clara, o réu está tentando envolver pessoas inocentes para negociar um perdão judicial para seus crimes”, afirmam na nota.

O PP diz que somente poderá se posicionar após tomar conhecimento oficial sobre os depoimentos que envolvem a legenda e está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.

O partido afirma que não compactua com qualquer ação ilegal.

Em nota, a Construcap afirma que “nunca teve relações com a empresa CSA e afirma que são absolutamente inverídicas as declarações prestadas pelo delator Alberto Youssef”.

A empreiteira diz que jamais pagou propina para participar de licitações ou para executar obras da Petrobras e permanece à disposição das autoridades.

A reportagem não conseguiu localizar o empresário Cláudio Augusto Mente.

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