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O depoimento do coronel médico reformado Hargreaves de Figueiredo Rocha, 82, em sessão da Comissão Nacional da Verdade (CNV), hoje, provocou constrangimento entre os presentes. Intimado a explicar sua atuação na confecção de laudo de necropsia sobre a morte de Severino Viana Colou, assassinado sob tortura, o militar disse que nunca elaborou tal documento.

O nome de Rocha consta do laudo de necropsia da morte do militante do Comando de Libertação Nacional (Colina), morto em 1968 na sede da Polícia do Exército na Vila Militar. Depoimentos de ex-presos políticos indicam que sua morte ocorreu sob tortura.

O militar, contudo, negou ter elaborado o documento, que omitia as torturas a que Colou fora submetido. Ele disse que atuou no Hospital Central do Exército (HCE) apenas na clínica médica e na pediatria.

"Nunca trabalhei com medicina legal. Vocês estão completamente equivocados. Nem sei como meu nome apareceu aí. Essa comissão é de verdade? Pode riscar isso porque é mentira. Pode rasgar esse papel e jogar no lixo porque é mentira", disse o coronel reformado.

A negativa surpreendeu membros da CNV e das comissões estaduais do Rio e Pernambuco, que também estavam na sessão. O perito da comissão nacional, Pedro Cunha, disse que o documento oficial do HCE não continha, aparentemente, uma assinatura de Rocha. Mas seu nome constava, à máquina de escrever, no documento.

"Como o seu nome foi parar nesse documento? O senhor tem alguma ideia? Usaram o seu nome indevidamente?", questionou o perito.

"Não tenho ideia. Vou até procurar a Justiça para saber como atuar", disse o militar.

O presidente da CEV-Rio, Wadih Damous, questionou Rocha sobre os relatos de pessoas torturadas que haviam chegado ao HCE. Antes do militar, o ex-dirigente do grupo VAR-Palmares, Antônio Roberto Espinosa, descreveu o caso de Chael Charles Scheirer, que chegara morto ao hospital após tortura. A resposta do médico chocou os presentes.

"Minha passagem no Exército foi absolutamente pacífica, normal. Pelas coisas que ouvi aqui, parece que servi em outro Exército. Estive no Exército por quase 30 anos e nunca vi nada do que foi dito nessa sala. Minha vida foi tranquila sempre respeitando a ética médica. Sempre tive respeito à pessoa humana", disse o militar.

Após o depoimento, as comissões afirmaram que iriam tentar fazer um exame grafotécnico nas rubricas que aparecem no laudo, para tentar comparar com as assinaturas do militar. Eles levantaram ainda a hipótese de uso indevido do nome para ocultar os reais autores do laudo.A comissão havia convocado para a sessão dois agentes da repressão. O capitão Celso Lauria, porém, apresentou atestado médico para não ir. O sargento Euler de Moraes disse que tinha viagem marcada. Ambos serão reconvocados.

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