
Parentes, amigos e fãs do ator Paulo Autran, que morreu na tarde desta sexta-feira (12) em São Paulo, dão o último adeus ao ator na Assembléia Lesgislativa do estado, onde acontece o velório até a manhã de sábado (13). O espaço também será aberto ao público e, por volta de 22h30, havia cerca de 50 pessoas no local.
Entre elas, a viúva do ator, Karin Rodrigues, que estava bastante emcionada. "O teatro brasileiro ficou mais pobre e a minha vida também. Ele é insubstituível e vai fazer muita falta", disse. Ela lembrou que Autran, vítima de câncer no pulmão, fumou a vida inteira. Com a doença, afirmou ela, o artista diminuiu o consumo de cigarros. "Ele queria que todos soubessem que ele morreu por causa do cigarro", contou Karin.
Quem também prestou as últimas homenagens ao ator foi a amiga e uma das principais parceiras de teatro, a atriz Tonia Carrero. Abalada, não quis dar declarações. "Eu não quero falar. Qualquer coisa que eu falar vai ser trêmula e esquiva".
A atriz Marisa Orth, que encenou com Autran a peça "Seis personagens a procura de um autor", também esteve no velório e lamentou a morte do amigo. "É imensamente lastimável. Ele é das pessoas que deveriam viver 250 anos. Sua contribuição é inestimável para o teatro", disse.
A tampa do caixão foi aberta para que os fãs e amigos pudessem se despedir. Duas grandes fotos do ator encarnando personagens foram colocadas próximo ao corpo. A todo momento, chegavam coroas de flores.
Carregado por cinco pessoas, o caixão com o corpo de Autran subiu a rampa principal da assembléia por volta de 21h50 desta sexta-feira. Ele estava internado desde quinta (11) no Hospital Sírio Libanês, na Região Central da Capital, devido a problemas intestinais. Além disso, Autran lutava contra um câncer e um enfisema pulmonar. O corpo do ator deve ser cremado às 11h de sábado (13), no crematório da Vila Alpina, na Zona Leste.
A vida nos palcos
O ator nasceu no Rio de Janeiro em 1922. Formou-se em direito, no ano de 1945, pela Faculdade do Largo São Francisco (USP) e chegou a advogar. Começa no teatro dois anos depois, com o grupo Artistas Amadores e a peça "Esquina perigosa".
Em 1949, inicia sua longa parceria e amizade com a atriz Tônia Carrero, com "Um Deus dormiu lá em casa (anfitrião)", considerado o seu primeiro papel como ator profissional, com o qual é premiado pela Associação Brasileira de Críticos Teatrais, de acordo com a biografia "Paulo Autran: um homem no palco", do crítico Alberto Guzik.
A partir daí, participa da encenação de vários textos importantes como "Seis personagens à procura de um autor", de Pirandello, "A dama das camélias", de Alexandre Dumas Filho e "Otelo", de Shakespeare.
Em 1962, faz "My fair lady" ao lado de Bibi Ferreira. Recebe o prêmio de melhor ator da Associação Paulista dos Críticos Teatrais por "Depois da queda", texto do dramaturgo norte-americano Arthur Miller. Autran também fez cinema, novelas e minisséries na televisão.
O último trabalho de destaque foi a encenação da peça "O avarento", de Molière, traduzida e adaptada por Felipe Hirsch. Algumas sessões tiveram de ser canceladas em virtude de internações de Paulo Autran.
Ele também fez uma participação no filme "O ano em que meus pais saíram de férias", de Cao Hamburger, escolhido para tentar representar o Brasil no Oscar do próximo ano. Um espaço no Sesc Pinheiros, em São Paulo, ganhou o seu nome neste ano.
Em entrevista à jornalista Marília Gabriela, o ator confessou que, aos 83 anos na época, ainda fumava consideravelmente. "Fumo porque sou burro. Não tenho forças pra largar. Fumo 12, 13 cigarros por dia."



