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Paranaenses criticam mais

As correspondências enviadas pelos paranaenses ao presidente Lula têm uma abordagem diferente da maioria dos brasileiros de outros estados. Em primeiro lugar, eles sugerem, depois criticam e só então pedem. Nos números gerais do país, a ordem é pedir, sugerir e criticar.

Em 2008, 699 cartas e 1.623 e-mails originários do Paraná chegaram ao Palácio do Planalto. Todas as correspondências apresentavam 3,3 mil tipos de manifestações. No topo da lista, constam 1.092 sugestões, 885 críticas e 755 pedidos.

Os curitibanos enviaram 171 cartas e 898 e-mails, que contabilizaram 1,5 mil manifestações. A ordem de prioridades foi a mesma do estado – 570 sugestões, 494 críticas e 220 pedidos.

Em todo o Brasil, Lula recebeu 22.663 cartas e 28.724 e-mails. Essas correspondências continham 77.670 manifestações. Os três temas mais tratados foram pedidos (27.820), sugestões (18.731) e críticas (15.721). (AG)

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Além dos e-mails, outras correspondências que chegam ao Palácio do Planalto também podem trazer conteúdos desagradáveis ao presidente da República. Há três casos de envio de fezes – duas vezes para Fernando Collor e uma para FHC. Collor também foi alvo de um feitiço, que continha cera de ouvido e mucosa de nariz.

De acordo com as estatísticas da Diretoria de Documentação Histórica, porém, as ofensas são raras. Lula só teria recebido duas cartas com xingamentos em mais de seis anos de governo. Na maioria dos textos, ele é tratado como alguém muito próximo.

Mas há as formalidades e curiosidades. Um funcionário que trabalha na leitura das correspondências já detectou cerca de 180 grafias diferentes para "vossa excelência".

Outra constatação é de que o envio de sugestões ao presidente cresce em situações delicadas.

Nos primeiros cinco meses de mandato, o principal tema das correspondências era o tratamento de uma bursite que causava fortes dores no ombro do presidente. Cerca de 40% das cartas continham sugestões de como tratar o problema. Ele também recebeu vários tipos de pomadas caseiras, unguentos e até uma pasta à base de gordura de carneiro. Lula, entretanto, curou-se após um prolongado tratamento com acupuntura.

Todos os presentes endereçados ao presidente chegam a ele ou à primeira-dama, Marisa Letícia. No ano passado, ela recebeu 2.077 cartas. Grande parte das correspondências é de mulheres que têm maridos presos e pedem para que Marisa Letícia ajude-as a conseguir indultos ou reduções de pena.

Respostas-padrão

O trabalho do setor que recebe as correspondências funciona como uma linha de montagem. São sete etapas antes da resposta, que começam por uma checagem de segurança – em 2001, houve três suspeitas de envio de antraz a FHC (exames químicos comprovaram que os materiais não passavam de amido de milho).

O diretor de Documentação Histórica do Planalto, Cláudio Soares, conta que as respostas são sempre individualizadas, mas observa que elas obedecem a mais de 100 combinações de informações – padrão do governo federal. "É nossa responsabilidade passar dados corretos e que reflitam o que realmente podemos fazer, sem colocar diferentes instituições do governo em contradição."

Nos casos de pedido de emprego no serviço público, por exemplo, a pessoa é avisada de que o meio de contratação é o concurso. Além disso, a resposta pode dar "conselhos", como mostrar áreas de mercado em expansão no país. Há também aqueles que pedem casa e eletrodomésticos ao presidente.

As queixas mais constantes, entretanto, dizem respeito à Previdência Social. Para Soares, essa questão foge à prática paternalista daqueles que veem o presidente simplesmente como provedor do povo. "Os jogos do sistema jurídico brasileiro são tão complicados que o cidadão não sabe a quem recorrer para requerer. Acaba escolhendo o presidente."

Na maioria dos casos, a Presidência não resolve os problemas, mas aponta possíveis soluções. Soares trabalha no setor desde 1988 e guarda dois episódios na memória. No final dos anos 90, uma carta a FHC ajudou uma mulher de Minas Gerais a conseguir um transplante de coração para a filha, ainda bebê.

Em 2004, um pernambucano mandou uma carta pedindo intervenção de Lula para resolver o problema da mãe, que ameaçava se matar porque a casa dela iria a leilão para pagar dívidas. Soares ligou para a polícia, que encontrou a senhora na hora certa. "Na bolsa dela, acharam um litro de álcool de cozinha, uma caixa de fósforos e uma carta de despedida para os filhos."

Após 21 anos de situações como essas, ele criou uma definição para os brasileiros que recorrem diretamente ao Palácio do Planalto para resolver seus problemas. "Quem chega nesse estágio está no limite da razão, da paixão e da necessidade." Nessas três circunstâncias, eles só querem uma luz no fim do túnel. (AG)

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