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Direitos Humanos

Corte da OEA notifica Brasil por não avançar na investigação sobre o Araguaia

Depois de ser condenado em 2010 pelos crimes na guerrilha, país ainda não cumpriu principais pontos determinados pela entidade de direitos humanos

Quase quatro anos depois da condenação do Brasil pelo desaparecimento forçado de 62 pessoas durante a guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 1974, a Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) notificou o estado brasileiro pelo não cumprimento dos principais pontos levantados pela entidade em 2010.

Em uma resolução de 41 páginas, a Corte cobra do governo que a Lei da Anistia não seja um obstáculo na investigação e responsabilização dos agentes da ditadura. A resolução da OEA afirma que "a mera existência da Lei de Anistia não impede a investigação e a interposição de ações penais", e alerta para a postura de membros do Judiciário, que, diante da possibilidade de prescrição dos crimes, "continuam aplicando a Lei de Anistia e o instituto da prescrição como obstáculo à investigação das graves violações ocorridas no período da ditadura militar, sem levar em consideração a sentença emitida pela Corte". A resolução deixa claro que a Lei de Anistia brasileira é incompatível com a Convenção Americana, da qual o Brasil é signatário.

Outro ponto abordado pela Corte Interamericana é sobre deficiências nos grupos que investigam ossadas e restos mortais dos desaparecidos no Araguaia, formado inclusive por generais das Forças Armadas. A ex-guerrilheira Criméia Almeida ressalta que, desde 2009, já foram gastos R$ 10 milhões em expedições ao Araguaia com 27 exumações de restos mortais. Nenhuma identificação foi concluída: "Até onde sabemos, o estado já gastou R$ 10 milhões em 23 expedições ao Araguaia, com cerca de 150 pessoas, inclusive generais que vão para nos constranger. Já foram feitas 112 escavações e 27 exumações de restos mortais. Até hoje, nenhuma identificada. Isso desde 2009. É fundamental que a instituição responsável pelos desaparecimentos não seja a mesma que vai investigar e buscar. E a própria Corte levanta isso", explica.

Sobre o grupo que investiga o paradeiro dos desaparecidos, a resolução da OEA diz ser "particularmente preocupante que o Ministério Público tenha afirmado que ‘é preferível a suspensão das expedições, à manutenção dos trabalhos com a atual sistemática atual’, a qual carece de estrutura".

Entre outros pontos, a resolução enviada ao governo brasileiro reitera ainda que o país continue se esforçando para tipificar o crime de desaparecimento forçado; que esclareça a maneira como vai assegurar a participação de familiares de vítimas "em todas as etapas da investigação e julgamento dos responsáveis", e que não há investigação em curso dos únicos restos mortais identificados, os de Maria Lúcia Petit e de Bérgson Gurjão Farias.

A Corte pede ainda que o Brasil cumpra a determinação de ministrar cursos de direitos humanos nas Forças Armadas e que ratifique as resoluções da ONU e da OEA sobre desaparecimentos forçados. "Hoje, para ratificar um tratado internacional, precisa de um trâmite legislativo. O país fez isso. Agora estão cobrando o poder Judiciário. Falta que a Dilma promulgue, para valer internamente, por meio de decreto presidencial. É ridículo que depois de um trâmite que teve que convencer todo o Congresso, que a presidente não promulgue esses dois tratados com um decreto. A Corte está chamando a responsabilidade do estado", explica Beatriz Affonso, diretora do Centro pela Justiça e Direito Internacional (Cejil) no Brasil.

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