
Onze integrantes da CPI da Petrobras da Câmara Federal se reúnem nesta sexta-feira (24) pela manhã em Curitiba com o juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato. A tônica do encontro será negociar para que 19 presos da operação encarcerados no Paraná sejam ouvidos pela comissão na capital paranaense, no próximo mês, e não mais levados para depor em Brasília. A medida desagradou à oposição, que vê uma tentativa de blindar parlamentares do PMDB.
Caso recebam a autorização de Moro, os deputados poderão realizar várias oitivas em um mesmo dia, se estendendo até à madrugada, e em sessões que não serão obrigatoriamente abertas ao público. Na Câmara, os depoimentos costumam durar entre sete e oito horas, são abertos à imprensa e transmitidos ao vivo na tevê e na internet.
Segundo a Gazeta do Povo apurou, integrantes do PMDB estão preocupados porque os depoimentos prestados em Curitiba englobam duas peças-chave que podem implicar o partido com os desvios da Petrobras.
Preso em Curitiba, Fernando Soares, o Fernando Baiano, é apontado como o operador dos pagamentos de propina a parlamentares do PMDB. E o ex-diretor da área de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, segundo as investigações, atuaria como representante do PMDB.
Pelo menos 10 peemedebistas estão sendo investigados na Lava Jato, incluindo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros.
Ato interno
Atualmente, um ato interno da Câmara proíbe que detentos sejam levados para as dependências da Casa. O ato, porém, foi suspenso temporariamente em março, para que o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, que seria ligado ao PT, pudesse ser ouvido. Duque permaneceu em silêncio.
O presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), afirmou que estaria negociando a revogação do ato com a presidência da Câmara. Membros da CPI ouvidos pela reportagem, porém, já dão como certo que o ato não será suspenso.
Autor do requerimento para que as oitivas fossem realizadas em Curitiba, o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ) afirma que a estadia dos 27 integrantes da CPI em Curitiba por uma semana seria menos onerosa e menos trabalhosa que a transferência dos 19 presos para Brasília. “É mais fácil a CPI vir e fazer um trabalho intenso, sem limite de horário, e avançar nos trabalhos”, disse.
Para o deputado Ivan Valente (PSol-SP), que integra a comitiva, a medida representa “perda de informação” ao público. “Nós demoramos um mês e meio para aprovar o requerimento da oitiva do Fernando Baiano, que é operador do PMDB. E ainda vamos ouvi-lo em Curitiba, não se sabe como. Eu espero que isso não se torne um instrumento de blindagem”, disse. A bancada do PT, PSB, PR, Pros e PCdoB também se posicionaram contra a medida.
Já o vice-presidente da CPI, Antônio Imbassahy (PSDB-BA), que lidera a viagem, sinaliza que é “precipitado” afirmar como serão os depoimentos, pois dependerá do posicionamento de Moro. “Essas oitivas servirão para esclarecer, não é bom fazer pré-julgamento.”



