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Atualmente, um ato interno da Câmara proíbe que detentos sejam levados para as dependências da Casa | PAULO WHITAKER/REUTERS
Atualmente, um ato interno da Câmara proíbe que detentos sejam levados para as dependências da Casa| Foto: PAULO WHITAKER/REUTERS

Onze integrantes da CPI da Petrobras da Câmara Federal se reúnem nesta sexta-feira (24) pela manhã em Curitiba com o juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato. A tônica do encontro será negociar para que 19 presos da operação encarcerados no Paraná sejam ouvidos pela comissão na capital paranaense, no próximo mês, e não mais levados para depor em Brasília. A medida desagradou à oposição, que vê uma tentativa de blindar parlamentares do PMDB.

delações

A comitiva de deputados também aproveitará o encontro com o juiz Sergio Moro para pedir acesso à íntegra das delações premiadas, mesmo aos trechos que estão sob segredo de Justiça.

Caso recebam a autorização de Moro, os deputados poderão realizar várias oitivas em um mesmo dia, se estendendo até à madrugada, e em sessões que não serão obrigatoriamente abertas ao público. Na Câmara, os depoimentos costumam durar entre sete e oito horas, são abertos à imprensa e transmitidos ao vivo na tevê e na internet.

Comissão contrata empresa de investigação e gera desconfiança

Em outra frente, a CPI da Petrobras tem enfrentado resistência de parte de seus integrantes por causa da contratação da empresa norte-americana de investigação Kroll, por R$ 1,1 milhão, para rastrear contas no exterior de envolvidos em corrupção na estatal.

Apesar de ter sido firmado há um mês, o contrato só foi disponibilizado aos deputados que compõem a CPI ontem, e ainda de forma reservada. A empresa foi contratada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para trabalhar em nome da CPI.

“É importante que a gente tenha acesso à metodologia [da empresa], porque quem conduz os trabalhos somos nós”, reclama o deputado Leo de Brito (PT-AC).

Segundo integrantes da CPI, o objetivo da empresa é ir atrás de depósitos no exterior feitos pelos principais nomes que apareceram na Lava Jato, como o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor Paulo Roberto Costa. O deputado Celso Pansera (PMDB) afirma que a Kroll deverá se ater às contas com indicativo de desvio, em especial de Youssef e Costa, “que já deram as dicas”.

A medida, porém, tem potencial para enfraquecer os depoimentos em delação firmada por eles, que resultaram na investigação de 40 parlamentares pela participação no esquema de corrupção.

“Eu quero saber se [a investigação da empresa] é só para desmoralizar as delações”, diz o deputado Ivan Valente (PSol), que afirma ter requerido a oitiva de um representante da empresa para prestar esclarecimentos.

A Kroll já foi contratada pelo banqueiro Daniel Dantas, envolvido em investigações de crimes financeiros. Funcionários da empresa foram acusados de violação de sigilo de adversários do banqueiro. (AA)

Segundo a Gazeta do Povo apurou, integrantes do PMDB estão preocupados porque os depoimentos prestados em Curitiba englobam duas peças-chave que podem implicar o partido com os desvios da Petrobras.

Preso em Curitiba, Fernando Soares, o Fernando Baiano, é apontado como o operador dos pagamentos de propina a parlamentares do PMDB. E o ex-diretor da área de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, segundo as investigações, atuaria como representante do PMDB.

Pelo menos 10 peemedebistas estão sendo investigados na Lava Jato, incluindo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros.

Ato interno

Atualmente, um ato interno da Câmara proíbe que detentos sejam levados para as dependências da Casa. O ato, porém, foi suspenso temporariamente em março, para que o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, que seria ligado ao PT, pudesse ser ouvido. Duque permaneceu em silêncio.

O presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), afirmou que estaria negociando a revogação do ato com a presidência da Câmara. Membros da CPI ouvidos pela reportagem, porém, já dão como certo que o ato não será suspenso.

Autor do requerimento para que as oitivas fossem realizadas em Curitiba, o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ) afirma que a estadia dos 27 integrantes da CPI em Curitiba por uma semana seria menos onerosa e menos trabalhosa que a transferência dos 19 presos para Brasília. “É mais fácil a CPI vir e fazer um trabalho intenso, sem limite de horário, e avançar nos trabalhos”, disse.

Para o deputado Ivan Valente (PSol-SP), que integra a comitiva, a medida representa “perda de informação” ao público. “Nós demoramos um mês e meio para aprovar o requerimento da oitiva do Fernando Baiano, que é operador do PMDB. E ainda vamos ouvi-lo em Curitiba, não se sabe como. Eu espero que isso não se torne um instrumento de blindagem”, disse. A bancada do PT, PSB, PR, Pros e PCdoB também se posicionaram contra a medida.

Já o vice-presidente da CPI, Antônio Imbassahy (PSDB-BA), que lidera a viagem, sinaliza que é “precipitado” afirmar como serão os depoimentos, pois dependerá do posicionamento de Moro. “Essas oitivas servirão para esclarecer, não é bom fazer pré-julgamento.”

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