A habilidade diplomática da presidente Dilma Rousseff foi posta à prova na semana passada quando a blogueira cubana Yoani Sánchez postou na internet um vídeo com um apelo à presidente. "Já fiz tudo a meu alcance. Estou proibida de deixar meu país e não cometi nenhum crime", diz Yoani no video. A cubana, cujo blog Generación Y, faz críticas ao regime do país comandado por Raúl Castro, foi convidada a vir ao Brasil no próximo mês para a exibição de um filme em que é protagonista. A lei cubana, porém, obriga o cidadão a pedir permissão para viajar ao exterior. Desde 2008 ela já teve 18 pedidos negados. Após nova negativa, ela postou a mensagem em que usa o passado de Dilma para tentar sensibilizá-la. "Eu sei muito bem que ela sabe o que é o controle excessivo e a repressão." O pedido é um teste para a atuação do governo na área dos direitos humanos, definida como prioritária pela presidente.
Oficialmente, a assessoria do Palácio do Planalto informou que não comentaria o pedido porque ele não foi feito de maneira formal. Apenas o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) enviou carta ao embaixador de Cuba no Brasil pedindo que Havana permitisse a viagem da blogueira. Suplicy até levou a demanda ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teria sugerido que a blogueira escrevesse uma carta oficial a Dilma. O secretário nacional de comunicação do PT, deputado André Vargas, explica que o partido "não foi instado a se posicionar, nem se reuniu para tratar disso".
Para o especialista em América Latina Dimas Fioriani, a ativista cubana é caso raro de "refém dupla". "O governo já convive com o espaço que ela conquistou, mas ela ainda é fisicamente refém do Estado. De outro lado, grupos conservadores usam sua imagem para atacar o regime", diz. Para ele, a situação impõe um dilema a Dilma.
Já a professora de Relações Internacionais Larissa Ramina, da Unibrasil, lembra que Dilma já contrariou a orientação do PT em uma situação de afronta aos direitos humanos no passado. Porém, não deve criar um constrangimento público com Cuba neste caso.
Uma solução "à brasileira" é defendida pelo ex-embaixador do Brasil em Havana Tilden Santiago. Para ele, Dilma pode usar sua habilidade para falar direta e sigilosamente com os dirigentes cubanos. "Ela tem estatura para fazer isso, mas o caso só virá à tona se o desfecho for positivo", avalia.
Dilma deve visitar Cuba no fim do mês.
Deixe sua opinião