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Cunha depende dos votos dos oposicionistas no Conselho de Ética para se salvar. Mas os partidos de oposição dizem que não vão apoiá-lo. | Uelslei Marcelino/Reuters
Cunha depende dos votos dos oposicionistas no Conselho de Ética para se salvar. Mas os partidos de oposição dizem que não vão apoiá-lo.| Foto: Uelslei Marcelino/Reuters

Em sua própria defesa, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), lançou mão da sua última cartada no jogo com a presidente Dilma Rousseff (PT), abrindo o processo de impeachment contra a petista. Apenas quatro horas antes do anúncio, o PT declarou voto contra Cunha no processo de cassação que corre no Conselho de Ética da Casa, o que praticamente exclui a chance do peemedebista paralisar a ação que pede sua cassação.

Janot de olho nas manobras

Para o deputado Chico Alencar (PSol-RJ), um dos autores do pedido de afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da Câmara, os aliados do presidente da Casa estão utilizando de “todo tipo” de manobra protelatória do processo no Conselho de Ética da Casa. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse ontem que “está acompanhando” as supostas ações de Cunha para atrapalhar o trâmite de seu processo de cassação. Chico Alencar afirmou ainda que qualquer mudança de voto da oposição no Conselho de Ética será a “confirmação de que, mais uma vez, a chantagem saiu vitoriosa”, o que seria nocivo para o sistema político brasileiro. “Se comprovaria uma moral de ocasião dos partidos”, diz.

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A jogada do peemedebista, a princípio, zera novamente o placar do Conselho, conforme avaliam os aliados de Cunha. Mesmo sem o apoio do PT, a oposição, que havia se posicionado pró-cassação do peemedebista, pode mudar de opinião diante da necessidade de que haja estabilidade do presidente na condução do processo de impeachment. Para os governistas, porém, a cartada final de Cunha o comprometeu ainda mais diante da opinião pública e, consequentemente, dos deputados.

Situação de Cunha pode enfraquecer processo de impeachment

Até então, sete parlamentares do Conselho de Ética – composto por 20 membros, mais o presidente, que só vota em caso de empate – se posicionaram contra Cunha e apenas um deles foi favorável a ele. Somados aos votos petistas, o andamento do pedido de cassação de Cunha teria dez dos onze votos necessários para dar sequência ao processo contra Cunha.

Com a abertura de processo de impeachment, porém, a situação muda, diz o deputado Paulinho da Força (SD-SP), um dos aliados de Cunha no Conselho de Ética. “A prioridade agora é sobre a comissão que vai avaliar o impeachment”, diz. Para ele, além da inversão de prioridade na Câmara, o que pode adiar ainda mais a análise do processo de Cunha, alguns partidos podem mudar de lado para não enfraquecer o processo contra Dilma.

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Não é o que dizem lideranças da oposição. O líder do PSDB na Camara, Carlos Sampaio (SP), desconsiderou a possibilidade de a sigla passar a apoiar Cunha. O partido tem duas cadeiras no Conselho de Ética. A mesma posição foi defendida pelo DEM, detentor de uma cadeira. O PPS, com direito a um voto, não se manifestou, mas já havia se posicionado antes pela continuidade do processo.

O deputado Julio Delgado (PSB-MG), que confirma voto contra Cunha, acrescenta que, se a oposição mudar de ideia, pode macular sua imagem diante dos eleitores, já que, para ele, ficou clara a retaliação do presidente sobre a posição do PT. “Se ficou ruim para a Dilma, ficou muito pior para ele.”

O deputado paranaense João Arruda (PMDB) é mais cauteloso. Para ele, o futuro do presidente da Câmara vai depender “da opinião pública”, já que, mesmo com a mudança de foco para o impeachment, Cunha também é alvo . Ele não desconsidera, porém, o poder de convencimento do colega. “Ele pode ganhar tempo para compor com a oposição, ou mesmo sepultar o processo ”, avalia.

Situação de Cunha pode enfraquecer processo de impeachment

Para o cientista político Eduardo Miranda, apesar de o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ter avaliado o preço político que poderia pagar com a abertura de procedimento contra Dilma Rousseff (PT), ele não deve escapar do processo de cassação. “Ele fez o cálculo, tanto que esperou até o último momento, mas, diante dos acontecimentos dos últimos dias que culminaram na decisão do PT contra o presidente, a situação ficou insustentável. Mas o pedido acabou pegando mal para ele mesmo”, diz.

Miranda acrescenta que, o andamento do processo de cassação do parlamentar pode enfraquecer, inclusive, a abertura de processo contra Dilma. “Ele é o principal adversário dela hoje. Com a sua saída, o próprio processo perde um pouco de legitimidade”, acredita. Mesmo assim, o cientista político não desconsidera a possibilidade de influência de Cunha sobre a Câmara. “O poder ele tem, é um deputado muito atuante, mas ele enfraqueceu muito”, avalia.

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