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RIO - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), criticou nesta segunda-feira, a articulação política do governo e garantiu que fará um ajuste fiscal, já que, se não pelo Congresso, ele será executado pelo governo através do ajuste pela inflação. Ele afirmou que há uma crise econômica, mas considera que ela seja essencialmente política.

“Não há dúvida de que algum ajuste terá que ser feito ou o governo fará o ajuste pela inflação, que é a pior parte. Se o Brasil perder o grau de investimento, a reserva de R$ 300 bilhões se evapora. Estamos sim numa crise séria, mas a crise é muito mais política do que econômica”, disse.

Durante almoço em homenagem ao deputado na Associação Comercial do Rio de Janeiro, Cunha afirmou que não tem confiança no governo Dilma, mas reiterou que manterá a relação institucional com o governo.

“(A relação será) institucional como tem que ser. Não diria estremecida, diria sem confiabilidade, mas a harmonia tem que estar presente. Não pense que vou fazer da presidência da Câmara fonte de retaliação ao governo. Confiança é uma coisa, harmonia é outra. Não vamos perder o diálogo. Mas, se você me perguntar se estou feliz com a interferência do governo numa possível investigação, é óbvio que não, mas não é isso que vai pautar minha ação como presidente da Câmara”, afirmou.

Ele criticou o fato de o governo não ter usado o vice-presidente da República Michel Temer para ajudar a abrir canais de diálogo entreo Legislativo e o Executivo. “O vice presidente da República é o melhor quadro político dentro do governo, com a maior capacidade de articulação, aquele que tem mais trânsito. Não usar o Michel Temer numa articulação política é não ter compreensão de como funciona o Congresso Nacional e a articulação política. Por isso talvez que a articulação política esteja desse jeito”, falou.

Cunha afirmou a jornalistas que a relação entre petistas e peemedebistas está chegando em um ponto onde as divergências estão maiores do que as convergências, e praticamente descartou a manutenção da aliança para 2018: “Dificilmente o PMDB vai marchar num processo em 2018 na mesma aliança que está hoje, acho muito pouco provável. (Um quadro) pode ser o Eduardo Paes, um nome que defendo abertamente”, respondeu.

Cunha disse que há um “rosário de diferenças” entre os dois partidos. “Diferenças de pontos de vista ideológico, essa relação tumultuada. Claro que tem diferenças. Mas estamos chegando num momento que as divergências estão ficando maiores do que as convergências”, ressaltou.

Sobre a inclusão de seu nome na “lista de Janot”, o presidente da Câmara culpou o governo que, segundo ele, quis “dividir o ônus” da crise envolvendo a Petrobras:

— É uma tentativa de dividir o ônus numa crise instalada no Executivo, porque Petrobras é do governo. Foi o que eles tentaram, principalmente às vésperas dessa manifestação.

O presidente da Câmara passou o dia no Rio de Janeiro, onde participou de almoço na Associação Comercial do Rio de Janeiro. Ele voltou a criticar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que o colocou na lista dos parlamentares que serão investigados pelo Supremo. E negou qualquer envolvimento com o policial Jayme Alves de Oliveira, conhecido como Careca. Como O GLOBO revelou, a casa amarela descrita em depoimento como destino da propina paga pelo doleiro Alberto Youssef é de um aliado de Jorge Picciani (PMDB), presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

— A situação do policial, comprovadamente que a casa não é minha. O estranho é o procurador escolher quem ele vai investigar. É importante ver se o mesmo critério deveria ser para todos, e parece que não é o que está acontecendo.

O deputado negou mais uma vez as acusações de que tenha pressionado as empresas Mitsui e Samsung através de requerimentos propostos pela aliada Solange Almeida (PMDB-RJ), ex-deputada federal:

— Foi tudo por mim colocado, refuto totalmente as acusações. Não posso responder sobre requerimento de outros parlamentares.

Sobre a articulação de propor uma CPI contra o Ministério Público, afirmou desconhecer a iniciativa:

— Desconheço a iniciativa, mas é preciso ver se há fatos concretos. Não tenho nada a dizer sobre isso.

O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), que também compareceu ao almoço, comentou a possível abertura de inquérito contra ele no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A Procuradoria Geral da República deve enviar hoje ao STJ pedido de abertura de inquérito contra o governador e Tião Viana, do PT do Acre. Pezão negou que tenha recebido ajuda de campanha de Paulo Roberto Costa ou de qualquer executivo da Petrobras:

— Estou à disposição desde o primeiro momento. Muito tranquilo, respeito a Justiça. Não tive ajuda de campanha e nunca pedi nada ao Paulo Roberto Costa nem a ninguém da Petrobras.

Também estiveram presentes ao evento o vice-governador do Rio, Francisco Dornelles (PP), o prefeito Eduardo Paes (PMDB) e o deputado federal Pedro Paulo (PMDB), principal aposta de Paes para sucedê-lo em 2016.

O encontro desta segunda-feira é uma clara demonstração de força do PMDB. Em discurso de abertura do almoço, o presidente da Associação Comercial do Rio, Antenor Barros Leal, disse que o almoço é uma homenagem a Eduardo Cunha. Ele contou que, quando disse a Eduardo Paes que convidaria o deputado, o prefeito teria dito que queria estar presente, já que o Rio “nunca mandou tanto no Brasil”.

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