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O prefeito de Curitiba, Beto Richa, completa um ano de gestão hoje. Durante sua campanha, a integração da capital com a região metropolitana foi um dos principais pontos do plano de governo. Beto propunha a criação de consórcios intermunicipais para resolver os problemas do transporte coletivo, lixo, habitação e saúde. A discussão entre os prefeitos para o consórcio da saúde teve avanço, mas os demais ainda precisam ser resolvidos. Beto diz que está desenvolvendo projetos, como o Cinturão da Boa Vizinhança, para tentar diminuir alguns problemas que atingem as cidades vizinhas e como conseqüência recaem em Curitiba. Para Beto Richa, a situação das cidades da região metropolitana só ficará melhor se for feita uma reforma fiscal, dando condições para os municípios implantarem estrutura para atender a população.

Gazeta do Povo – Durante a campanha, você enfatizou a importância da integração de Curitiba com os outros municípios da região metropolitana. Por que a gestão de Curitiba tem de ser pensada de forma regionalizada?

Beto Richa– Não dá mais para pensar isoladamente. Os problemas são comuns. Há demandas por mais serviços públicos na área de saúde, tanto que temos várias unidades de saúde sobrecarregadas em função desse atendimento do municípios vizinhos e até de outros estados. Também acontece a mesma coisa na área da educação. Temos que buscar as soluções de forma compartilhada. O fato de eu ser presidente da Assomec (Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba), facilita. Tenho fortalecido a secretaria de Assuntos Metropolitanos, colocando mais técnicos e hoje o entrosamento é grande com os municípios vizinhos na busca dessas alternativas.

Na prática, quais as principais dificuldades para essa integração?

São de ordem financeira. Temos a integração de 14 municípios com transporte coletivo – isso gera custos para Curitiba; o aterro sanitário que reúne 15 municípios; e agora o consórcio intermunicipal da área de saúde. Estamos disponibilizando a estrutura de Curitiba para os municípios vizinhos. O Ippuc tem muita procura dos municípios, atendendo necessidades de planejamento. Um programa muito bom é o Cinturão da Boa Vizinhança. Os técnicos do BID vieram conhecer o projeto, e abriram a possibilidade de apoiar a implantação. Mas querem garantias de que a implantação servirá de modelo para o resto do Brasil. Até por causa da pressão dos municípios vizinhos. O programa tenta segurar as pessoas no limite da cidade, para que não venham buscar em Curitiba os serviços. Seria a construção de moradias, ecovilas, equipamentos públicos, como unidades de saúdes, escolas, projeto de recuperação de rios, matas ciliares, na divisa entre Curitiba e os demais municípios.

De que forma Curitiba vai entrar no consórcio de saúde?

Está sendo formatado e não está pronto. Tivemos reuniões da Assomec para tratar deste assunto, mas os detalhes ainda estão sendo estudados.

Uma das questões principais da integração é o transporte e já no primeiro semestre você cumpriu uma promessa de campanha abaixando a tarifa. Uma das propostas que sempre aparece quando se discute tarifa é acabar com a rede integrada para que os curitibanos pagassem menos. Por que defender a integração ao invés de beneficiar os moradores de Curitiba?

Ela é importante. Não podemos virar as costas para nossos vizinhos. Hoje seis municípios já estão conurbados com Curitiba e tem muita gente que mora lá e trabalha aqui, moram aqui e trabalham na região metropolitana. Por isso não dá para acabar, foi um avanço e não podemos recuar. O que precisava era de um apoio financeiro do governo do estado, porque quem tem que pagar essa conta não é Curitiba. Essa tarifa é social porque quem mora nos municípios vizinhos é a população mais pobre.

O governo do estado está investindo na construção de diversos terminais em algumas cidades, como Colombo. Fica a dúvida: quem vai pagar a integração?

O governo não vai nos impor isso. A viabilidade técnica e financeira dessa integração vai ser amplamente discutida. O governo seria bem-vindo para contribuir com a viabilidade financeira desse projeto, da ampliação dessas integração.

Perto de 30% dos atendimentos das unidades 24 horas são de moradores da região metropolitana. Sem esse atendimento, os moradores de Curitiba não seriam melhor atendidos?

Os municípios não têm condições de atender com a capacidade e com a qualidade de Curitiba. Sem esses usuários, certamente melhoraria a agilidade no atendimento. A principal revolta da população é com a demora do atendimento. O atendimento é bom, tem qualidade, mas é demorado. Essa demanda vai ser melhor atendida a partir do ano que vem com todas as obras na área de saúde que estão sendo programadas. Nós já contratamos 174 médicos em 2005, agora está autorizada a realização de outro concurso público para contratação de mais 131. Duas unidades 24 horas estão sendo construídas e retomamos a do Pinheirinho que estava parada. Já inauguramos três unidades básicas e serão mais nove no ano que vem. Além disso, o Pronto Atendimento Infantil será implantado em cada uma das unidades 24 horas. Os investimento na área de saúde serão intensos. Para isso estamos tendo auxílio do governo do estado.

Outro problema para a região metropolitana é o aterro sanitário. Este ano ele ganhou uma sobrevida até 2008, mas de qualquer forma, daqui a três anos será preciso uma solução definitiva. O que está sendo preparado para resolver definitivamente esse problema?

Duas ações básicas estão sendo feitas. Uma é a separação do lixo: houve uma retração na coleta do material reciclável, por falta de divulgação e de campanhas permanentes por parte da prefeitura. Estamos retomando esses projetos, agora com mais arrojo, incentivando a separação do material em quatro partes: vidro, papel, metal e plástico. Na Europa vi o lixo com esse tipo de separação. Temos um bom exemplo do passado quando foram feitas campanhas ostensivas, a população aderiu e os índices de separação eram altíssimos. Depois a prefeitura abandonou essa política e não deu importância ao assunto e o recolhimento caiu.

E o pedido do Ministério Público para implantação da compostagem. Curitiba vai ter condições de implantar?

A compostagem, transformação do lixo em adubo, é possível. Fomos conhecer a usina de compostagem em Bordeaux (França) e os técnicos inclusive já conheciam Curitiba. Estamos em fase de estudos e a nossa intenção é implantar em 2006.

O senhor esteve em Brasília recentemente e conversou com o ministro Paulo Bernardo. Qual foi o tema do encontro?

Ele me mostrou o repasse das emendas parlamentares de R$ 8,6 milhões para Curitiba. Praticamente tudo para urbanização de área de risco social. Estive também com o ministro das Cidades para discutir o programa de melhoria nos transportes e o ministro Walfrido Mares Ghia (Turismo) que anunciou a liberação de R$ 1,8 milhão para a sinalização turística. Vai ser de padrão internacional, apontando os pontos turísticos, as entradas e as saídas da cidade. O Ministro elogiou muito o projeto que desenvolvemos em função do encontro da ONU, em março. É um evento do Governo Federal, mas nós estamos dando toda a estrutura necessária e cuidando dos eventos paralelos. Mas o compromisso da ONU é com o Governo Federal.

A região metropolitana tem situações de desigualdade financeira entre os municípios, como Curitiba e Araucária de um lado e Fazenda Rio Grande e Almirante Tamandaré de outro lado. O senhor vê formas de minimizar essas diferenças?

Reforma fiscal! Minha sugestão é essa. Têm muita discrepância. Por exemplo: os municípios do Oeste recebem royalties de Itaipu, com recursos altíssimos. É preciso repensar essa situação, já que existe a necessidade de uma medida valorizando os municípios de maneira uniforme.

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